31 de ago. de 2013

Pronomes e Advérbios interrogativos

Agora há pouco, resolvi escrever aqui. A idéia era falar sobre um assunto que me chamou a atenção esses dias, a que eu dei o nome de "Assimetria do Quem"; mas acabou que eu "abri" toda uma nova "lata de vermes" quando, enquanto procurando por informações sobre o "quem" (que entra na classificação de "pronome interrogativo" em português), descobri que se faz uma certa distinção entre "Advérbios Interrogativos" e "Pronomes Interrogativos".


Os Advérbios Interrogativos são os seguintes:Quando, como, onde, por que

Os Pronomes Interrogativos são os seguintes:
Quanto, qual, o que, quem

Qual a diferença? Afinal, todas essas palavras podem começar perguntas e soar como se tivessem simplesmente a mesma "classe" gramatical. Exemplos:
Quem é aquela ali?
Quando é que ela vem?
Qual teu nome mesmo?
Como vai você?

(enquanto procurando pela diferença, encontrei esses videos desse professor -- pelo sotaque deve ser gaúcho u.u --, que pareceram bem bons até... apesar de inúteis para meus propósitos: )




Mas, enfim, depois de um pouco mais procurar, encontrei esse link. Percebi que essa distinção entre as duas classes resolve justamente um problema que eu tinha com as palavras que aprendi participarem da classe dos "advérbios relativos": elas não substituem nada! Explico...

A minha definição de pronome, desde o início, era perfeitamente expressável pela frase "Pronomes são palavras que substituem nomes" (a idéia que eu tinha era mais ou menos essa). Estudava pronomes tendo isso como verdade, e tudo sempre deu muito certo para os pessoais. Mas ao chegar nos indefinidos, tudo descambava para algo como "essas palavras são pronomes deal with it". Nos últimos tempos, comecei a notar que onde, como, quando e por que não substituíam nada em início de pergunta... mas os tinha como pronome por um simples motivo: tampouco o faz a classe dos pronomes possessivos (conforme eu pensava -- na minha cabeça, os pronomes possessivos são simplesmente a "declinação dos pessoais no genitivo"). Mas aí andei notando que a função dos pronomes possessivos é a mesma dos demonstrativos: não necessariamente substituir, mas especificar. Frases como

O casaco que comprei e de que agora sou dono escolheu.

, quando em contextos em que toda essa informação em azul é desnecessária, podem ser reescritas assim:

O meu casaco encolheu.
Este casaco encolheu.

Essa nova "função" dos pronomes me tornou inseguro quanto à classe, e eu tinha meio que aquela idéia de que "se eu não sei, então deve ser pronome". Aliás, me perguntando agora sobre o motivo de eu considerar aquelas quatro palavrinhas como pronomes, duas possibilidades me vêm à mente:

  1. Todas elas são wh-cognatas (e, bem, qu-cognatas, quando comparado ao latim); ou
  2. Todas as quatro podem funcionar como pronomes relativos.

E, aliás, um tempo atrás eu comentei sobre algumas palavras simplesmente não exigirem cópula. O conjunto delas me pareceu justamente restrito ao dos Pronomes Interrogativos (tá tá... fora o cadê, que é mágico -- aliás, acho que o "novo" cadê será o xo, como contração de "deixa eu").

Enfim... eras isso. Numa próxima vez eu escrevo sobre a tal "Assimetria do Quem".

R$

26 de ago. de 2013

Improdutivos

Um tempo atrás, andei paranóico sobre a "não-produtividade" na formação de palavras dos verbos da segunda (er) e terceira (ir) conjugações. Posto de forma mais simples, estava incomodado com como, ao criar um novo verbo (normalmente com base em verbos de outras línguas -- frequentemente do inglês), tendíamos a utilizar a primeira conjugação (ar) e a simplesmente achar estranhas as versões com er ou ir.

Por exemplo, suponha que tenhamos o verbos refresh e queiramos criar um novo verbo com base nele. O natural hoje é que o chamemos de refreshar, e que versões como refresher ou refreshir soem bizarras.

Ao longo de um bom tempo, andei tentando evitar gerar verbos de primeira conjugações, e até que encontrei alguns casos em que pude fazê-lo sem problemas. Um exemplo é a terminação ecer, que funciona bem com verbos que envolvem "transformação", e normalmente os torna [facultativamente] reflexivos (aliás, isso me causou concluir que o verbo agradecer deveria no mínimo poder ser reflexivo... mas isso aí já é outra história). Palavras como emburrecer e embravecer (tá tá, acho que essas até que se usa normalmente, né?) são exemplos. Startecer seria um bom exemplo de algo vindo do inglês. Percebi que, quando estou bravo e quero dizer que alguém fez alguma burrada, digo que essa pessoa já "alguma_coisa_grande_e_brava_e_bizarra"-lheceu tudo já.

Tendo a pensar que foi essa "forçação" na criação de palavras que me tornou menos resistente a novos verbos com outras conjugações, já que me fez ouvir bem mais algo que antes me incomodava aos ouvidos. E é bastante por ter me acostumado a aceitar até que bem essas novas regras que eu creio que seria possível, talvez, ainda, fazer com que outros também o façam.

Mesmo assim, por algum motivo, tem algumas palavras que, apesar de raras, simplesmente já me soavam melhores na segunda conjugação desde o início. Um bom exemplo foi o verbo merger, que gerei a partir de uma tradução direta da palavra merge em inglês (que ironicamente normalmente é traduzida pra um verbo de primeira conjugação, a saber, mesclar). Outro exemplo é apender (sei lá, talvez tenha soado parecido com aprender (?)), que ironicamente tem uma versão em italiano, apesar de eu o ter gerado com base no verbo append, em inglês.

Bom... algo que também percebi com esse "esforço" foi que tem alguns particípios que aos meus ouvidos simplesmente não causam dano algum ao trocar um "a" por um "i". Um bom exemplo é ressequido, que minha vó vive usando. Ora... se existe um ressequido, por que não existir um verbo ressequir? Outra palavra foi desboquida (sem boca), que me parece até fazer sentido existir pra fazer oposição a desbocada (que só fala palavrão).

É claro que essa regra não funciona muito bem pra _muitos_ verbos. Trocar o "a" pelo "i" em particípios como sentado, amado, falado, pulado ou provado não funciona muito bem. Mesmo assim, é verdade que me acostumei a gerar novos verbos com "ir" toda vez que uma palavra do inglês me é emprestada. Verbos como refuse e request, dos quais a tradução normalmente não me vem à mente, são vítimas diretas desse tipo de generalização. Algumas até me agradam, como load (nunca gostei de "loadear").

[agora eu tava pensando que talvez enir fosse um fim bom pra criar coisas novas, como writenir, drivenir ou rulenir........ mas talvez seja só bom pra mim mesmo v_V]

É claro que meu objetivo não é eliminar completamente a produtividade da primeira conjugação... e por isso eu de vez em quando me obrigo a aceitar que simplesmente a tradução de algo possa receber um "ar". Também, nada me impediria de gerar verbos em conjugações que a gente ainda não tem -- meus exemplos preferidos seriam transeur e conteur, relacionados a transeunte e conteúdo, respectivamente.


Plot twist... (?)

Ok ok... essa postagem já estava há tempos pra ser escrita e nunca era publicada. Minha paranóia durou bastante tempo, mas eu nunca tinha tomado "boa vontade" de vir aqui e escrever tudo isso [ou, se o tinha feito, não lembro]. Mas algo me ocorreu umas duas semanas atrás: o que aconteceria se, em vez de pegar palavras do inglês, como estou acostumado a fazer, eu pegasse muitas palavras do francês?

Percebi que o francês é repleto de verbos cujo infinitivo é similar à nossa "segunda conjugação" (er) [tem também uns terminados em ire, mas como o "i" tem som de "a" achei que talvez a coisa desandasse um pouco], e muito provavelmente se pegássemos palavras [como manger] deles teríamos uma infinidade de palavras novas terminadas em "er" (e é possível que isso inclusive tenha ocorrido nos tempos em que o francês era a língua popzinha).

Assim, minha conclusão foi a seguinte: não tem por que eu me preocupar com isso. Estamos criando verbos com "ar" agora simplesmente porque não temos coisa melhor com que criar. Por acaso, agora é o momento de a nossa língua "se orgir" [fazer orgia? -- ó aí ó um novo verbo gerado on-the-fly com "ir"] com o inglês, e o inglês vai nos trazer palavras com "ar". Mas se no futuro outra língua for a popzinha da vez então talvez nossas regras de produtividade mudem e os verbos novos sejam de uma "classe" diferente.

Enfim... eras isso...

R$

24 de ago. de 2013

Sobre Chico Buarque: Construção

[Essa é uma postagem inútil. No máximo talvez sirva pra instigar-vos a ouvir Chico Buarque. No mais, nem leiais se estiver chata demais]

Um tempo atrás eu andei ouvindo Chico Buarque. Digeri sistematicamente 6 discos dele: Chico Buarque de Hollanda I, II, III e IV, Ópera do Malandro e Construção [as capas dos discos ilustram essa publicação].


"Digerir sistematicamente" pode ter soado como uma expressão "pomposa", mas o que eu quis dizer foi que eu ouvi com bastante atenção repetidas vezes (20x, 30x ou até mais... nem sei) cada um daqueles discos, e fiz o esforço de inclusive decorar boa parte da letra de cada uma de suas músicas.

O leitor que não me conhece talvez ache isso (que acabei de dizer) estranho [ou talvez não espere isso de mim, já que até hoje acho que nunca falei sobre isso], mas esse é o meu comportamento normal ao tratar de música. Escolho um disco para ouvir e o "digiro" (esse é o verbo que eu sempre uso) até conseguir extrair o suficiente pra me sentir bom conhecedor daquela obra.

Bem... como ía dizendo, um tempo atrás [na verdade, boa parte do ano passado e do início desse ano] eu andei ouvindo muito Chico Buarque. É claro que no meio também ouvi a trilha dos Final Fantasy IV e V, e um bom tanto de Chrono Cross, já que afinal música de jogo é o que mesmo me interessa; mas dei grande atenção à música brasileira (acho que numa tentativa de me reaproximar do Brasil, do qual estava longe naquele tempo).

Mas o título dessa postagem não é sobre todos os álbums do Chico Buarque, mas sobre um deles somente, e mais especificamente, na verdade, sobre uma única música contida nele: Construção. Foi o quinto álbum que digeri e tive muito prazer em ouvi-lo, normalmente nas minhas idas e vindas de ônibus a Porto Alegre (quando mais o ouvi já estava aqui no Brasil). Gostaria, porém, de fazer alguns comentários.

Chico Buarque pra mim sempre foi sinônimo de letras absurdamente bem pensadas. Letras como a de Pedro Pedreiro ou Rita (ou Homenagem ao Malandro, a primeira sua que ouvi) pra mim foram os grandes motivos de eu tê-lo começado a ouvir, pra falar a verdade. Se o segundo disco foi menos "samba" (como o de Juca ou o de Tem Mais Samba, por exemplo), o seu terceiro disco compensa com a minha música preferida Januária, e outras como Roda Viva, O Velho, Sem Fantasia........ táá, já deu pra perceber qual meu disco preferido.

Os arranjos de suas músicas, também, não consigo deixar de elogiar. Tudo muito bem pensado, com um solinho de flauta aqui, um trombone ali... o cara é um gênio! E o que mais me assusta é que o cara chegava a lançar mais do que um disco por ano. Como é que consegue? O_O

Enfim... mas aí eu cheguei ao Construção, sobre o qual eu já tinha acumulado uma expectativa gigantesca através de conversas com amigos meus que do Chico só conheciam esse álbum ou que o tinham como seu preferido. A primeira música me agrada affuuuu* e foi durante muito tempo a minha preferida do álbum, graças às tantas rimas com verbos na terceira conjugação (ir) que tem (eu tive meio paranóico com esses verbos durante boa parte do início do ano). Depois vem Cotidiano, numa versão tensa e "progressiva" (a orquestra vai crescendo aos bem poucos ao longo da música) e que parece tentar passar ares de "ruindade" na rotina do narrador, diferentemente da versão do Seu Jorge v_V

A terceira música foi a que menos me agradou, apesar da cuíca divertida ao longo de toda ela... e daí chegamos à Construção, em que eu então era obrigado a baixar o volume pra não estourar meus ouvidos (a música é muito barulhenta em algumas partes). Como não dava pra digerir ouvindo o disco inteiro [era muito grande e complexa], eu acabei tirando um tempo pra ouvir somente ela, em loop, durante várias viagens de bus.

Mas antes de continuar comentando sobre a música em si, só gostaria de continuar com o meu passeio pelo álbum. O que vem a seguir, ou seja, Cordão, foi uma daquelas músicas que, se inicialmente achei bastante chatas, ao longo do tempo aprendi a apreciar. Me agradam nessa música também as rimas de verbos em segunda (er) e terceira conjugação (ir), e o seu finzinho, que sempre fazia ficar tentando gerar novas frases começando com "enquanto eu puder cantar ...".

Prosseguindo, ao chegar em Olha Maria eu me obrigava a aumentar o volume de volta (especialmente porque a música coincidia com o momento em que o ônibus estava passando pelas pontes do Guaíba, e o barulho do vento + motor do ônibus causavam um ruído bastante desagradável). Olha Maria pra mim é boa por seu arranjo, e não por sua letra, o que a torna parecida com Construção, mas eu chego lá xP

As duas músicas posteriores me agradavam como um todo: a letra era legal e o ritmo "cativante". Eu não sei o contexto em que o Chico escreveu Samba de Orly, mas se eu tivesse que chutar diria que foi em tempo de exílio político.

Em compensação, Minha História era aquela música que eu sempre tinha vontade de pular. Simplesmente não me agradava. Só tinha uma coisa que a salvava: o fato de ela emendar perfeitamente com Acalanto, que encerra o disco com chave de ouro.

...

Agora que eu já cumpri com minha necessidade de passear pelo disco, posso comentar sobre a música Construção sem peso na consciência. Mas primeiro:



Ao ouvir pelas primeiras vezes, achei excelente: um amigo me tinha dito que ele usava as mesmas palavras em outra ordem e gerava uma nova música, e tomei isso por verdade. Ao longo do tempo, percebi algumas irregularidades, como a existência de um "pródigo" na segunda estrofe que não existia na primeira, ou o fato de que nem tudo rimava lá muito bem.

Isso fez a minha opinião sobre a música cair lá pra baixo: grandes bosta usar algumas palavras idênticas. Parecia mais preguiça da parte do autor do que uma obra de "arte". E a minha conclusão foi: Construção é overrated. Um amigo até argumentou que todos os versos terminam em proparoxítona (o que é tri), mas não achei tão grandes coisas.

Mas daí eu comecei a ouvi-la em loop, como disse... e notei algumas coisas legais (na real, algumas eram óbvias e eu já tinha notado antes, mas é legal dizer). Acabei concluindo que a música é boa por seu arranjo, e não pela sua letra (e é isso que a torna similar a Olha Maria).

Bem, como eu já disse, a música vai crescendo, crescendo, crescendo, até estourar no que então vira uma versão mais curta de Deus lhe Pague. Pelo que dá pra entender, a primeira estrofe conta a história de um homem "bom", que sai pra trabalhar na construção, pesadamente. Ele bebeu, soluçou, se embriagou e, finalmente, "tropeçou no céu como se fosse um bêbado" [1min26] (e aqui entram as cordas pela primeira vez na música, me dando um ar de "vazio", bem quando ele está flutuando "no ar como se fosse um pássaro"). Ele se espatifa [1min40] (ar cordas descem tristemente) e morre na contramão atrapalhando o tráfego: as "buzinas" surgem [1min56] em dissonantes, barulhentamente [detalhe que "barulhento" é mais um particípio presente que concorda em gênero], mas sem perder a música por trás do tudo.

O ar de 007 do fim delas [2min06] marca o início de uma nova estrofe, dessa vez de um bêbado, egoísta ["amou daquela vez como se fosse o último"] que trái a mulher ["beijou sua mulher como se fosse a única"] e que não gosta dos filhos. Ele já chega na construção bêbado ["atravessou a rua com seu passo bêbado", etc...], e as cordas e os bocais já deixam toda uma tensão no ar. Quando a letra fala em "tráfego" denovo [2min52], novas "buzinas" agora surgem (não mais os bocais, mas as vozes em dissonantes incômodas também), que logo somem para a continuação da música.

A tensão aumenta até que finalmente ele também "tropeçou no céu como se ouvisse música"... e a tensão toda que os bocais produziam em notas longas se dissipa em uma melodia e um ritmo pensado [3min29].

Muita coisa acontece na música até o início da nova estrofe, mas eu não consigo ver grandes lógicas com a letra. Na terceira estrofe, a música cresce e se aviolenta, mas termina similar a como ela fica aos 3min56, quando o homem da segunda estrofe "morreu na contramão atrapalhando o público". É como se essa terceira estrofe fosse desimportante, ou como se ela tivesse sido posta na música depois de já pronta... ou algo assim. Sei lá...

Por fim, a música cresce, cresce, cresce, e "explode" numa segunda versão de Deus lhe Pague, dessa vez não tão "tensa" e "violenta", mas muito mais cheia de "melodia" e um pouco mais devagar.

[Quando a música termina, já estou esperando o início da outra, no tom certinho e tudo mais]

Era isso. Só queria comentar sobre esses detalhes da música que achei interessantes.

*: fui questionado sobre esse uso da palavra affuuuu anteontem e fiquei curioso sobre se ele é "correto" pra todos os que me ledes. É?

10 de ago. de 2013

Coisas aleatórias, O "E gaudério" e... uma viagem minha (?)

Um conhecido um tempo atrás me chamou a atenção para o quanto o E aparece nas nossas palavras mais gaudérias. Enquanto conversando sobre isso com um outro amigo, ele o chamou de "E gaudério", e o título dessa publicação [tradução de "post" pelo Facebook] é uma referência a isso.

Dois dias atrás, achei meu tio na cozinha de casa preparando doce de pêssego com iogurte. Xinguei-o, porque achei a combinação bizarra, no que meu tio me retrucou dizendo que eu era muito "reclamento". "Reclamento"? Apesar de a palavra parecer perfeitamente aceitável [pelo menos pra mim], me fez perceber/concluir/supor (?) algumas coisas que achei que valiam a pena comentar aqui.


A presença do "E gaudério"

A primeira delas, e mais importante, era a presença do "E gaudério". Ora, se o verbo era "reclamar", o esperado seria que eu fosse "reclamante", não? Bem, não é o que me parece acontecer no "dialeto interiorano" [só uma tentativa de outra forma de dizer "gaudério" sem dizê-lo u.u]. A seguir, seguem alguns exemplos que o meu conhecido usou:

Quando uma pessoa fala demais, ela é bem faladeira. Se ela e outra brigam, então fazem um brigueiro. O brigueiro tem outro nome -- que minha avó usa bastante: um entrevero [esse definitivamente sem um "i" antes do "r"]. E, quando pedem desculpa um pro outro, fazem uma choradeira.

Tenho certeza de que tem muitas outras palavras com esse "E" mágico em que eu não consegui pensar. Enquanto pensava nessas acima, porém, lembrei de mais algumas que não tem o E:

O nome daquela agüinha que fica na sacola do lixo eu tenho por "churríu" [que também é o nome da água que se "expele" quando se está com diarréia... HUEHAUEHAUHE]; quanto tem muito mosquito demais, minha mãe alterna entre "Que mosquital!", "Que mosquitama!" e "Que mosquitume!".

[por acaso, olhei esse "dicionário" e, bem, no início parecia que nem tinha tanto E, mas as palavras mais do fim meio que pareceram concordar com essa sugestão de que "ter E engaucheia as palavras"]


A presença de um "Particípio Presente Ativo"

A segunda delas ainda vai merecer uma postagem por si só, mas vou fazer um comentário sobre o assunto aqui.

Nos últimos tempos, andei lendo um pouco sobre as conjugações dos verbos em latim. Finalmente entendi por que o verbo não é referido pelo infinitivo como em português: os verbos em latim têm mais de um infinitivo v_V O normal, daí, é aquela forma "amo" [não consegui pôr a "tenuta" em cima do o D=], em vez de "amare".

Como já provavelmente sabeis, meu conhecimento é todo dependente de wikipedia (e wiktionary) e, bem, não é lá muito aprofundado. Assim, o tal de "particípio presente ativo" foi só o nome a que cheguei graças às tabelas de conjugações apresentadas no wiktionary. Anyways, quando o assunto é latim, essas fontes me parecem bem completas [mas, óó, denovo: não sou lá um bom conhecedor do assunto].

(daqui à frente, passarei a chamá-lo de "particípio presente", já que é assim que o wiktionary chama a mesma construção nas tabelas dos verbos em italiano)

Mas o que que é o tal "particípio presente", afinal? Definir agora me é difícil, mas posso exemplificar: cantante, amante, crescente, nascente, constituinte, pedinte. Essas "formas" não aparecem nas nossas tabelas de verbos do português, apesar de usadas o tempo todo. Apesar de derivadas de verbos, em português elas tomam o lugar de adjetivos ("Que criança irritante!") e substantivos ("Viajantes deixavam e chagavam a todo momento"). Em alemão, aprendi que esses particípios se chamam "Partizip I" [e, aliás, foram o grande motivador de eu ter ido atrás da sua versão em latim: não aceitei que o alemão pudesse ter um nome pra essa estrutura e o latim não u.u].

No exemplo do meu tio, "reclamento" seria uma variação da palavra "reclamante". Até aí tudo bem. Mas algo me chama a atenção: "reclamento" concorda em gênero!

Desde que a presidenta Dilma tomou posse, uma discussão sem sentido sobre a existência da concordância dos particípios presentes em gênero tomou conta da mídia. A palavra presidenta já tinha sido usada até mesmo no século XIX. Mesmo assim, jornalistas Brasil afora saíram discutindo sobre a corretude dessa palavra. Nós gaúchos, como eu tive o prazer de constatar, já estávamos eras à frente, concordando desde sempre em gênero nossos "particípios presentes" (lol not -- mas isso bem que dava uma matéria nO Bairrista n_n).


Só mais um devaneio

Tá... mudando dos paus pra canoa... quero falar do "bá".

O nosso "bá" frequentemente adquire valores diferentes conforme a vogal usada. Apesar de oficialmente o chamarmos de "bá", em referência a "barbaridade", daonde a palavra [muito provavelmente] saiu, a vogal é flexível, podendo ser trocada por qualquer outra (o que inclusive nos fazia, quando estávamos na Alemanha, dizer que o "Bá" era a expressão mais polivalente da nossa língua portuguesa no sul do Brasil). "Bó... xingou a mãe", "Biii... fudeu", ou "Bããã" saem toda hora, e ao menos da minha parte são inevitáveis.

Tem um bá que me surpreende, mesmo assim, e que cada vez mais tenho ouvido: um "Bäi" [a vogal fica entre o "a" e o "e", e indica que algo não deu certo ou algo ruim ocorreu -- tipo um SegFault 10 minutos antes de terminar o prazo pra entregar um trabalho]. Uns colegas meus o tem inclusive escrito ultimamente, mas não usando o "ä" (porque, afinal, isso é bem cara de coisa minha), mas usando "e" no lugar. Problema é que durante a fala, o "e" não representa bem o som, e inclusive soa muito errado só dizer "bei". O "e" precisa de uma "componente" de "a", e, bem, não faz parte da língua.

E aí é que entra o meu devaneio! Eu gosto de enxergar língua como moda. Se alguém influente sai usando alguma palavra então é muito mais provável que ela caia na boca dos outros; se alguém nem tão importante a sai usando, chances são de que ela nem seja lembrada em algum tempo. Quanto aos sons, eu gosto de pensar que um som numa língua permanece nela enquanto houver bastantes palavras que o preservem. Se temos somente uma palavra com certo som, então provavelmente ele não seja considerado parte da língua; mas e se o puséssemos em várias palavras novas? E se as pessoas quisessem usá-lo por qualquer motivo? (se fosse "fashion", seguindo a analogia da moda -- regionalismo gaúcho poderia ser um aspecto útil) Fiquei pensando se não seria legal [apesar de impossível ou quase improvável] se pudéssemos inserir esse novo som à nossa língua.

Enfim... enfim... a moral é que eu não gosto de ver meus colegas escrevendo "bei" e ficaria mais satisfeito se tivéssemos uma letra/diacrítico pra representar esse som em especial. Garanto que "bá" não é a única palavra em que esse tipo de coisa acontece, apesar de não ter qualquer outro exemplo no momento.

Mas isso é só um devaneio u.u

R$

7 de ago. de 2013

Novamente, de volta

Sumi por um tempo. Passei o fim de junho e julho inteiro em desespero com o fim das minhas últimas cadeiras da faculdade e acabei sem vontade de vir aqui escrever alguma coisa.

Com o fim do último semestre em aulas do meu curso [agora só me falta o TCC \o/], relaxei e larguei de mão inclusive os afazeres relacionados ao TCC, já que, pelo que entendi, o pessoal do grupo declarou férias e esqueceu de me avisar (por uma semana, fui o único a aparecer pelo labóratório D=).

Tenho a forte impressão de que anteontem a movimentação voltou no laboratório e, como despedidas às minhas tão agradáveis "férias", resolvi aparecer por aqui. Ao longo delas, fiz uma grande quantidade de coisas nas quais agora me alegro.

(a saber...) Limpei meu e-mail e meu Youtube [que guardava horas e horas de videos, já que não os assistia desde o fim de maio], reorganizei meus arquivos, assisti ao Avatar: Legend of Korra e à primeira temporada de Dexter e ainda troquei todas as minhas senhas de todas as contas de que consegui me lembrar, reorganizando-as em níveis de importância. Com os meus arquivos organizados, foi fácil fazer um backup de tudo para o HD externo que adquiri algum tempo atrás, e, com a certeza de que meus arquivos estariam a salvo, não me importei em perder algum tempo limpando o Windows (isso demora porque eu tenho que instalar um Windows pelo CD antes de usar a partição de recuperação, já que se eu não o fizer ela se perde ao tentar acessar a MBR -- ela não espera que o GRUB esteja lá, pelo que pude entender). Também removi as duas partições com Ubuntu e instalei um Mint e um Arch. Durante as muitas esperas, andei lendo o "Eragon", um livro que há tempos queria começar (to achando bem agradável -- melhor de ler do que Tolkien, certamente --, apesar de a história me parecer meio infantil até agora D=).

Fiz ainda mais algumas coisas de que não falo aqui agora porque a elas dedicarei postagens próprias: são mais importantes do que "ter matado tempo".

Enfim... quanto às postagens sobre línguas, certamente elas serão frequentes: se elas não aqui foram publicadas, seus assuntos ainda estão guardados nas minhas anotações do celular, esperando o seu momento. Talvez eu também tente escrever algo em inglês aqui ou ali: precisarei treiná-lo para meu TCC.

Eras isso...

R$