29 de ago. de 2014

Sobre a racistinha da torcida do Grêmio

[Essa postagem é fruto de uma conversa com um amigo sobre o racismo da torcida do Grêmio em seu último jogo]

Pra começar, o video...



E, bem, esse link pra caso não saibais do que ocorreu no último jogo do Grêmio. Agora, meus pensamentos sobre o assunto...

Já há 6 semanas eu venho fazendo um curso de Psicologia Social pelo Coursera. Através do curso, eu desenvolvi uma imagem da área da Psicologia bem diferente da imagem preconceituosa que eu tinha até então. O curso me tem ensinado muito sobre como os seres humanos se comportam e frequentemente se baseia em experimentos pra mostrar que algo seja verdade ou não (o que é legal, porque, diferente daqueles testes psicotécnicos do DETRAN, aparentam ter ciência por trás).

Bom... por conta de alguns conceitos que eu aprendi nesse curso, eu tenho motivos pra achar que a racistinha não deva ser punida com o mesmo rigor que racistas "comuns". Nos próximos parágrafos explico melhor esses motivos.

Para começar: um dos assuntos sobre os quais eu aprendi ao longo do curso foi o que eles chamavam de deindividualization (desindividualização, em tradução livre). A idéia é que, quando em grupos, tendemos a diminuir as ponderações sobre o certo e o errado e só seguir a multidão.

Se a multidão estiver fazendo algo ruim, a gente tende a, sem pensar, fazer algo ruim; se a multidão estiver fazendo algo bom, a gente tende a, sem pensar, fazer algo bom. Isso é fácil de exemplificar com o "espírito de natal" no Natal (quando todo mundo fica de bom humor e tal) ou com os quebra-quebras das manifestações na "Revolta da Batata".

No caso da guria racista, ela claramente estava seguindo a multidão. Assim, é claro que de alguma forma ela tem de ser punida; mas eu tenho minhas dúvidas sobre se ela deveria ser punida com o mesmo rigor de casos em que uma pessoa sozinha teve uma atitude racista.


Tem ainda uma outra coisa que eu acho que "diminui" a responsabilidade dela sobre o ponto. No curso, a gente leu sobre o que eles chamavam de descriptive norm (norma descritiva, em tradução livre) e injunctive norm (norma injuntiva, em tradução livre).

A norma descritiva é a norma que se observa (mesmo que ela não seja socialmente aceita). Por exemplo, se uma rua está suja porque todos jogam lixo nela, então a norma descritiva é que se joga lixo na rua, mesmo que não se seja socialmente aceito fazê-lo. A norma injuntiva, por sua vez, é o que é "socialmente aceito". Espera-se que ninguém jogue lixo na rua... então essa é a norma "injuntiva".

As pessoas tendem a se adaptar a ambas as normas, e normalmente é melhor que ambas as normas concordem (sabe quando se vai numa cidade turística e é tudo limpinho e tu mesmo te dás ao trabalho de não jogar lixo no chão só pra preservares o lugar limpinho; mesmo quando talvez tu jogasses no chão se estivesses no meio de uma cidade suja?)

No caso do racismo, me parece que a norma injuntiva é que ninguém seja racista; mas claramente essa não é a norma descritiva [pelo menos] da torcida do grêmio. No caso da guria, eu suporia que o grupo (a torcida) "pendeu" ao racismo e, bom, isso virou a norma, e agora era perfeitamente natural gritar coisas racistas (naquele meio).Possivel -[e provavel]-mente isso não refletisse nem de longe a atitude dela.

Mas, então, se não é pra puni-la, então o que fazer? Bom... esses são só os meus pensamentos, e os motivos pelos quais eu ficaria com o pé atrás de puni-la. Talvez puni-la resolva bem pouco, e melhor seria dar um jeito de fazer as pessoas perceberem (de alguma forma) que racismo não seja a norma (nem descritiva nem injuntiva).

Mas aí "como dar esse jeito?" é uma pergunta que eu não sei responder =/

R$