27 de dez. de 2012

Politicagens

Eu sei eu sei... esse blog andou parado um bom tempo ultimamente. A verdade é que ando meio atordoado (e revoltadamente desmotivado) com o assunto do meu TCC e com as coisas que tenho que resolver antes do dia 7 de janeiro, quando a minha implementação PRECISA estar terminada.

Na falta de vontade de fazer as coisas relacionadas à computação, passo os meus dias (ou as minhas noites, já que tenho invertido os meus horários e agora ido dormir às ~8h pra acordar às ~17h -- ee, diga-se de passagem, isso tem me ajudado a manter-me bem focado no que quer que eu faça) lendo wikipedia, lendo e-mails, e coisas tais.

Li bastante sobre lingüística, como era de se esperar... eee, bem, pretendo fazer uma postagem sobre o assunto; mas esse post não é sobre isso, mas sobre uns links que andei encontrando aqui e ali e que acho interessante que sejam compartilhados.

O primeiro deles é sobre DRM. Eu sei: é um assunto velho. Mas vale a pena voltar a atenção a ele denovo. A moral é que eu nunca tinha achado esse site -- apesar de já ter sobre ele ouvido falar -- e agora, por muito acaso, acabei cruzando o seu caminho.

O segundo é sobre a Amazon (eu não gosto do Richard Stallman, mas, aaa, esse link até que vale -- como sempre, ad hominen não conta v_V). Aos poucos eu vou percebendo o quanto eu não gosto da Amazon e o quanto ela ter chegado ao Brasil me incomoda. A Amazon é um câncer, uma abominação; mas não significa que não ponderaria comprar dela se o seu preço estivesse baixo o suficiente. Mesmo assim, a "venda" de livros eletrônicos (o único comércio de que a Amazon decidiu tomar parte aqui no Brasil) praticada por ela é suja e malevolente. Esse link dá uma idéia do que eu quero dizer.

O terceiro é sobre o Nióbio brasileiro. Na verdade é uma série de links. A moral é que aquilo que tem circulado na internet sobre o Brasil ser o maior produtor mundial de Nióbio é a mais pura verdade. E sobre ele ser vendido a preço de banana, não é dúvida nenhuma. É um absurdo! Mas quando a gente fala sobre isso, todo mundo fica de conversinha reclamando do Brasil. Temos mais é que fazer uma mobilização nacional, alguma petição pública, alguma pressão política, levar isso à TV, aos radios, alguma coisa. Isso precisa parar!


Por fim, o quarto link é sobre o Marco Civil:




O leitor dirá "mas quanta politicagem". A moral é que a gente não pode deixar que grandes empresas tomem conta da nossa vida, da nossa economia, dos nossos recursos. É necessária a conscientização... e muito mais que isso: a ação nossa através de mobilização política.

Enfim... esse é só um resumo das minhas ilusões de fim de ano T___T

R$

11 de nov. de 2012

Musicais da Disney

Como o leitor provavelmente sabe, a rede social da qual eu definitivamente mais participo durante o meu tempo livre é o Youtube. É uma das poucas redes sociais que realmente geram "conteúdo" (ou, ao menos, geram algo decente) e, bem, em geral, os comentários das pessoas por lá -- ao menos essa é a sensação que eu tenho -- são bem mais "civilizados" (com exceção de quando chega um pessoalzinho com coisas como "upvote se você chegou a esse video através do 9gag) do que, sei lá, aqueles que vejo no Facebook ou no 9gag.

Dois canais dos quais eu particularmente gosto -- e aos quais eu sigo -- são o do Kyle Landry e o da Lara, ambos pianistas. Ambos frequentemente tocam músicas de jogos, e inclusive eles foram convidados pra tocar no E3, junto com a Taylor Davis (o nome do canal é ViolinTay), outro canal a que sigo.

Pronto, agora que já introduzi os canais -- que, na real, são super conhecidos --, posso comentar sobre o real assunto da postagem: músicas da Disney.

O Kyle Landry fez dois vídeos junto com a Lara, que mora na Austrália mas foi visitar os Estados Unidos. Um deles era um arranjo (que, sério, me lembrou MUITO as músicas do Kingdom Hearts -- motivo pelo qual eu acabei indo atrás da música original pra descobrir quem era o compositor e tudo mais) da música "Belle", do filme d"A Bela e a Fera", da Disney:



Já disse que o arranjo tem cara de Kingdom Hearts (o que faria bastante sentido, já que o jogo tem tudo a ver com a Disney), mas, não... a música original não foi composta pela Yoko Shimomura. Como ouvi a música original,



, e como a achei tri boa, acabei ficando com ela na cabeça pela sexta-feira inteira. Sério... é muito agradável, e a letra é bem a cara de "musical da Broadway". Aliás... aliás... não é só cara que tem:





Bem... como a música me agradou, na sexta-feira denoite acabei ouvindo a lista de reprodução que o Kyle Landry tem só de músicas da Disney. A última que acabei ouvindo foi "Part of Your World", da Pequena Sereia:



Como a ViolinTay foi quem tocou, a música me chamou a atenção... e por isso fui atrás da original também:



Mas, enquanto procurava, achei uma versão absurdamente boa da música:



EE... bem... foi essa música o grande motivo pelo qual resolvi vir aqui e postar isso no meu blog. Sério! Essa mulher (o nome dela é Sierra Boggess) canta demais!

Enfim... nessa semana eu descobri que os filmes da Disney tinham músicas tri fodalhonas que eu nem sabia que existiam Uma hora vou tirar um tempo e ver se assisto a alguns desses antigos clássicos da cultura que os norte-americanos incutiram na nossa vida como se fosse nossa v_v

R$

19 de out. de 2012

Em KL#8 -- Outono

Essa é uma postagem completamente diferente de todas as que já fiz, creio eu, até hoje. Ela se baseia muito mais nas suas fotos do que no que eu tenho a dizer sobre elas.

Até pouco tempo atrás, duas coisas aqui na Alemanha não me passavam bem pela garganta: a comida e o clima.

Até pouco tempo atrás!

Sério... o outono aqui é a época mais bonita do ano, certamente. A Alemanha não combina com a primavera, com cores vibrantes e vivas. O outono reflete bem a cara do país (ou, ao menos, de Kaiserslautern).

Cheias de cores, as árvores despencam suas folhas por todo lugar.

Acho que as minhas fotos ficaram meio ruins, mas tomara que dê pra ter uma idéia de quão colorida a estação está [ou, melhor, estava -- porque agora as folhas já estão aparentando bem mórbidas v_v].



Enquanto tirava fotos pela universidade (parecendo um turista -- árabe, aliás, por causa da barba -- aloprado querendo registrar tudo o que vê), uma amiga com quem eu tava me apontou uns cogumelos.


Eu passo por esse lugar (onde encontramos os cogumelos) todo dia! Ainda não os tinha visto (eles me lembram o MClone e os trabalhos de computação gráfica na faculdade -- os quais inclusive me renderam um artigo [aliás, também é legal saber que o DBLP é "powered by Universität Trier", que fica aqui perto]).


Eu fiquei com a impressão de que essa próxima foto parece foto de maquete de uma nova construção que vai sair num futuro próximo em algum lugar. Sei lá... parece que é tudo artificial v_v

E isso conclui essa minha postagem. Eu tenho postado numa freqüência super alta ultimamente, mas não creio que essa freqüência deva se manter por muito tempo. Mesmo assim, é verdade que eu tenho mais alguns assuntos sobre os quais eu já tinha escrito em outros tempos e que ainda estão "escondidos" na lista de rascunhos do blog.
(agora quando minha mãe me pedir fotos direi a ela que leia o meu blog... HUEAHEUHA)

R$

18 de out. de 2012

Armamentista ou Desarmamentista? Eis a questão...

Um amigo deu like num link no Facebook hoje que acabou aparecendo pra mim nos "feeds de notícias". O link (como é de se esperar, já que ele é bem viciado nessas coisas) era sobre um armamentista respondendo a alguns argumentos desarmamentistas.

Eu gostei da discussão e fiquei feliz por ela ter se dado na Carta Capital, uma revista que eu acho suficientemente não tendenciosa. As opiniões são de 2011 (ocorreu durante uma tal de CPI das Armas do RJ), mas achei que valeria a pena postar os links organizados. Meio que duvido que o leitor se dê ao trabalho de ler tudo (haja tempo e boa vontade!), mas, sei lá...

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/maioria-das-armas-dos-traficantes-vem-de-dentro-do-pais/

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ong-viva-brasil-contesta-informacoes-da-ong-viva-rio/

http://www.cartacapital.com.br/politica/viva-rio-reitera-armas-do-trafico-vem-de-dentro-do-pais/

Através desses três primeiros links, eu poderia dizer que quase teria a sensação de que o "vitorioso" seria o desarmamentista Antonio Rangel Bandeira, não fosse o fato de ele rebater o "achismo" do diretor da CAC com comentários de cunho tão "achista" quando o de seu adversário (somente referindo ao próprio documento alvo de questionamentos pelo Rebelo). Inclusive, ele não cita os nomes dos supostos membros da CAC que tiveram suas armas roubadas, argumentando que "há abundância de noticiários" (enquanto, por outro lado, o Fabrício Rebelo o desafia a fazê-lo). ["apelo à ignorância", mas, sei lá, néam?]

Aliás... o Rebelo nem comenta sobre a afirmação de que as maioria das armas não viria do exterior, apesar do título dado pela Carta Capital à sua resposta (por mais que ele diga que não faria sentido associar-se à CAC para obter armas do exterior).

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-menos-armas-em-circulacao-menos-mortes/

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-mais-armas-em-circulacao-menos-mortes/

http://www.cartacapital.com.br/politica/walter-maierovitch-o-brasil-e-protagonista-no-trafico-internacional-de-armas/

Bom... tendo lido tudo, posso dizer que, bem, eu definitivamente sou muito mais armamentista do que desarmamentista. Eu creio sim que maior parte das armas venha do exterior: não fosse assim (fossem só os 7% defendidos pelo Bandeira), não veríamos com tanta freqüência fuzis, metralhadoras e o diabo nas apreensões da polícia cobertas pela imprensa. Lendo o comentário da diretora do Sou da Paz, fiquei enculcado sobre o seguinte trecho:

Em 2003 conseguimos aprovar o Estatuto, em 2004 fizemos uma grande campanha que tirou muitas armas de circulação, em 2005 veio a discussão do referendo, em que a população votou pela manutenção da venda de armas de fogo, mas isso não significa que acabou com o Estatuto do Desarmamento, muito pelo contrário.

Quer dizer então que a opinião da população não serve pra nada? Acho que o resultado do referendo claramente demonstrou que a população não quer ficar desarmada.


Sei lá... esse foi um post meio impensado... sem muita formação, e com links "desnudos" aí para o deleite do leitor (normalmente, eu prefiro embutir o link em alguma palavra ou frase no meio do texto). Só achei que seria talvez um assunto sobre o qual o leitor possivelmente gostaria de refletir =)

R$

17 de out. de 2012

Elmord's Magic Valley

Em uma conversa com um amigo -- o dono do Lines o' Code, um dos blogs ali do lado -- sobre o quanto eu gosto de aprender sobre línguas*, sobre linguagens, sobre linguísticas e todas essas coisas que giram em torno do modo como os seres vivos se comunicam (digo "vivos" porque admito que tenho sérias ressalvas com a área de redes, na computação), fiquei sabendo da existência de uma postagem sobre esperanto no blog de um de seus amigos.

Fiquei curioso: de acordo com o amigo, a conversa rendeu affuuuu sérias polêmicas. Fui ver! (na real, demorei um monte pra lembrar: tem umas coisas que a gente só lembra de fazer quando definitivamente não dá, como quando tá tomando banho, quando tá andando na rua, quando tá no lab "trabalhando", etc.) Ao chegar lá, fiquei feliz: é um blog que se encaixa perfeitamente no tipo de blog que me agrada ler. Fala sobre assuntos de computeiro, assuntos da vida e, como me era esperado, tem algumas postagens sobre línguas \o/

Bem... essa postagem é mais meio que pra demonstrar que eu fiquei tri empolgadinho com o feito alheio, pra recomendar o leitor ao blog, e pra explicar que eu devo referi-lo na listinha ali à direita de agora em diante (eu todo orgulhozinho crente de que estaria sendo o primeiro; aí agora fui ver o blog lá e já tinha um link pro meu... lol).

Eras isso...

R$

*: Eu gostava de tentar distinguir "línguas" de "linguagens" meio que tomando por critério alguns parâmetros que aprendi nos tempos das aulas de LIBRAS. Foram-se os critérios (esquecidos -- mas subjetivamente guardados), ficou a distinção: de alguma forma, eu me dou ao esforço de diferenciá-las [as palavras], apesar de saber que as definições variam demais -- e inclusive haver línguas que não diferenciam ambas as palavras [coff coff... inglês... coff coff].

Aliás aliás... falando de inglês: fiquei de boca aberta hoje quando me toquei que, apesar de normalmente relacionarem o significado de língua a "language" ou "tongue", eles usem a palavra "multilingual". É mais um daqueles exemplos tipo lunar vs moon (dafuq?).

Enfim enfim... já to "leaking" demais. O meu '\0' era ali no "R$".

13 de out. de 2012

Pobre Português 2

Na minha última postagem eu reclamei sobre como o português parecia cada vez mais afundar. Não posso dizer que isso seja a verdade absoluta: essa é somente a minha percepção da coisa; é inegável, porém, que muitas das nossas "estruturas" estejam a se perder.

Essa postagem deve enumerar algumas das perdas que andei notando algum tempo atrás. Enquanto em geral quando escrevo tendo a tentar manter um padrão "um pouco mais alto" quanto à "norma culta" da língua, é verdade que umas delas [as perdas], como o leitor perceberá, eu até mesmo incorporo na minha escrita.

A primeira perda a comentar é a omissão da preposição em casos em que ela vem acompanhada do "que". Na fala, tudo bem: gaúchos não usam plural, paulistas não usam subjuntivo, pernambucanos não usam artigos (esse último não tá errado, mas convenhamos...); tudo ok! Mas é bem frequente encontrar frases escritas (na internet, especialmente) onde locuções como "sobre que", "de que", "com que", são substituídas pelo pobre "que". Em vez de dizerem "Essa é a pessoa com que eu mais simpatizo", por exemplo, dizem "Essa é a pessoa que eu mais simpatizo", removendo friamente a preposição. Problema é que o erro acaba saindo do ambiente informal e atingindo os textos "importantes" aqueles que os falam, os quais na grande maioria dos casos nenhuma ciência dele têm, ora têm de realizar.

Esse mau uso das preposições é um vício não necessariamente vinculado ao "que". Em geral, as pessoas não sabem usá-las direito. Boa parte da língua, inclusive, está em constante mudança por causa dessas anomalias. Um tempo atrás, lembro de ter visto uma propaganda do canal Futura em que as pessoas na rua eram abordadas com uma frase como

Eu preciso de sair cedo hoje.

e a pergunta "Essa frase está correta?". Parece ridículo, mas houve muita gente respondendo que estava correta, porque, sim, às vezes, o verbo "precisar" é transitivo indireto ("eu preciso de comida", por exemplo). Já achei inclusive mais de uma vez em artigo científico (não que leia muitos, mas, enfim) o uso do verbo "visar" com o sentido de objetivar sem a preposição que o deveria acompanhar: o "a". Ou seja, em vez de "visando a resolver esses problemas", por exemplo, o autor escreveu "visando resolver esses problemas". Talvez nesse caso esteja na hora de simplesmente mudar a língua e remover o "a".

Isso me leva ao segundo empobrecimento sobre que [viu? creio que a maioria dos leitores não teria colocado um "sobre" ali antes do "que" e acharia estar perfeitamente correto] eu gostaria de comentar: a crase [puta que pariu! Sério... ninguém sabe usar essa merda direito!].

Com o perdão das expressões que terminaram o meu último parágrafo, continuo com a afirmação de que ou a crase através do tempo vai passar a ser "correta" em casos extremamente não lógicos, ou ela vai cair (simplesmente pelo fato de que as pessoas não sabem usá-la). O motivo: novamente, as pessoas não entendem NADA [dupla negação?] sobre regência verbal! Chega a dar um dó perceber escritos como "Tópicos relacionados à "Zé Pedro"" [acabei de achar esse no google agora há pouco].

Ainda nas preposições, uma última perda: o caso comitativo! Sério... não é engraçado que com o tempo somente o "comigo" e o "contigo" tenham se mantido. Quem ainda fala "conosco" [virou "com a gente"] ou, pior, "convosco" [virou "com vocês"]? E o "consigo"? Se no Brasil esse último se manteve só em casos em que se denota reflexividade da terceira pessoa, em Portugal ele parece em constante uso em regiões em que se usa "você". Assim, chega a ser engraçado ver o comentarista dizendo "Qual é que é para si [...]" (com o sentido de "Qual é que é para você") no seguinte vídeo: (ok ok... "para si" não é "consigo", mas é óbvio que o "si" permanece como caso oblíquo no português português)



Saindo das preposições, pulo agora para os verbos. Alguns parágrafos atrás eu disse que tudo bem falar errado; a verdade é que eu realmente fico agoniado quando ouço paulistas não usando o subjuntivo. Lembro de uma vez ter assistido ao Casos de Família (naquele tempo em que [ó denovo! Usaria o leitor o "em" ali antes do que?] tinha a Regina Volpato) e ter visto uma mulher (paulista) falando "ela quer que eu deixo ele ir todo dia na casa dela" (algo assim). Sério... que tenso!

Mas dos paulistas eu não posso falar muito: nós gaúchos basicamente eliminamos o futuro do presente. Em vez de dizer "irei" ou "farei", nos deixamos influenciar pelos falantes do castelhano das proximidades das nossas fronteiras e usamos o verbo "ir" como auxiliar de futuro. Enquanto eles dizem "me voy a caer", dizemos "vou cair", e tudo fica igual. Ok ok... não enxergo o nosso caso como uma perda, já que aceitamos perfeitamente o futuro do presente como possível variação (e não estamos cometendo nenhum pecado na língua -- com discutíveis exceções: alguns leitores dirão que "eu vou ir" seria errado), mas a verdade é que essa variação cada vez mais se distancia do usual.


Seguindo com os regionalismos, uma terceira perda, na minha opinião, é o uso do você. Ela é parte de o que eu gosto de chamar de "terceira-pessoalização" dos nossos verbos. Outra parte desse "fenômeno" é o uso do "a gente". Através deles, as nossas conjugações ficam (usando o verbo cantar como exemplo):

Eu canto
Você canta
Ele canta
A gente canta
Vocês cantam
Eles cantam

E através disso tudo fica conjugado na terceira pessoa (fora o "eu", que de tanto que é usado pelos falantes nativos através dos tempos acho que seria bem difícil de se estragar). Sério... isso não seria um problema (afinal, é só mais uma forma de dizer a mesma coisa) se não fossem dois fatos: (1) as pessoas têm desaprendido como se conjuga das outras formas; e (2) aos falantes não nativos acaba sendo ensinada somente a forma mais fácil.

Eu creio já ter escrito (embora não tenha conseguido encontrar) sobre quando eu fui tentar ensinar a meu professor como conjugar um verbo na primeira pessoa do singular e os outros brasileiros que comigo estavam me cortaram dizendo que ele deveria usar "a gente" no lugar de "nós" e conjugar tudo na terceira pessoa. Sério... desleixo básico da língua D=

Pra terminar com os verbos, a última perda é a mais óbvia: o completo esquecimento do Pretérito Mais-Que-Perfeito. Esse, certamente, não tem mais volta. Está fadado ao desuso. Não há o que fazer: não existe medida forte o suficiente pra trazê-lo de volta. Infelizmente, já que ele era BEM mais eficiente que a versão atual dele: a construção "tinha/havia + particípio".

Mais uma coisa que o falante nativo da nossa língua não sabe usar são aquelas tais de "próclise", "mesóclise" e "ênclise". Pra nós brasileiros, no fim das contas, tudo virou próclise (dá pra usar em tudo que é lugar mesmo -- diferente das outras duas), e essa é uma daquelas perdas que eu simplesmente não consigo não incorporar a esse blog.

Falando em "perdas que eu incorporei a esse blog", outra perda é a não-diferenciação dos pronomes demonstrativos "esse" e "este". Enquanto eu sei qual deveria ser a regra (ou ao menos eu creio saber), eu simplesmente não consegui ainda acostumar a lembrar de me policiar sobre o assunto. Assim, bem como pra todo brasileiro, pra mim é tudo a mesma coisa.

E isso finaliza a minha lista (que de forma alguma tenta ser exaustiva) de empobrecimentos do nosso português. Infelizmente, provavelmente haja bem mais v_v

R$

2 de set. de 2012

Pobre Português

Desde o fim de Julho, quando fui a Bruxelas, tenho ficado enculcado com uma coisa sobre a nossa língua: o quão difícil ela é.

Parece engraçado falar isso. É óbvio que o leitor sabe o quão cheia de diferentes tempos verbais, conjugações, regras de acentuação e regência específicas ela é. É claro que o leitor já se viu com dificuldades pra aprender a conjugar os verbos na segunda pessoa do plural e é claro que já teve dúvidas sobre qual palavra deveria usar em algum ponto de uma de suas frases. A nossa língua é complexa, difícil, complicada! Ela faz o falante pensar!
Falei de Iracema e lembrei dessa capa.
Ô livrinho bem ruim esse aqui
Dava vontade de chorar de tão
desconfortável de ler T__T



O usuário comum frequentemente acaba cometendo erros quanto à "norma padrão da língua" mesmo em momentos em que gostaria de escrever corretamente. Crase, próclise, mesóclise... são tantas as "fontes" de erros que, se eu inicialmente planejava enumerá-las, acabei por desistir.

Agora posso chegar ao ponto que realmente me deixa pensante: como a nossa língua (e, na verdade, não somente a nossa, mas muitas outras) conseguiu, através dos tempos, adquirir tantas regras e especificidades, se em geral o que acontece naturalmente é justamente o oposto, a saber, a simplificação da língua? Como foi que em tempos onde a educação era privilégio de poucos a língua conseguiu evoluir "para melhor", se nos nossos tempos, nos quais a educação está ao alcance de muitos, a moda é simplificar? Como, minha gente?

Num primeiro momento, pensei que talvez fosse justamente a falta de educação que contribuísse para a "melhora" da língua: como somente uma elite intelectual era responsável pela definição do certo e do errado, os outros 99% da população que se danassem. Mas o problema é: esses outros 99% também utilizavam a mesma língua para se comunicar! Como seria possível que uma pequena elite definisse o modo como TODOS se comunicariam??

Ao longo do tempo, pensei e matutei, e acho que agora talvez tenha uma resposta. Se é a verdade, não o digo: precisaria encontrar alguém que sobre isso estudara; mas que se assemelha à veracidade, creio que o leitor concordará que sim.

Se agora a coisa não mais é assim, até pouquíssimo tempo atrás a produção literária (e, basicamente, consequentemente, "cultural", do ponto de vista da nossa língua) era monopolizada pela elite intelectual de então. Os escritores eram os responsáveis por utilizar palavras complexas que coubessem em contextos extremamente específicos e que carregassem significados sobremaneira restritos. Eles construíam uma "nata" sobre a língua, a qual era endossada por gramáticos, críticos, e o diabo. Enquanto estudando literatura na escola, lembro de ouvir que o João Guimarães Rosa era um desses caras, conhecido por criar palavras à bangu (aqui, com crase, supondo que seja "à moda bangu")!

Uma das principais responsáveis por essa maldita
simplificação a que me refiro ¬¬
Eu já escrevi em outra postagem sobre o Machado de Assis o quanto me facinava ler, em seu Memórias Póstumas de Brás Cubas, palavras que ainda provavelmente nem traduzidas para o Português fossem, como "minuete" ou "japões". Também o José de Alencar foi acusado de "galicismo" (i.e., utilizar palavras do francês) pela crítica contemporânea ao usar a palavra "flanco" no seu Iracema -- eu lembro que a versão de Iracema que eu tinha vinha com uma "resposta de José de Alencar à crítica" no fim do livro.

Por baixo dessa camada superior, de onde estruturas sintáticas complexas emanavam, viria uma camada inferior, não-educada, de gente como a gente, que falava o português do jeito que aprendeu, de qualquer jeito. Eles seriam os responsáveis por "desregular" os verbos mais usados no dia-a-dia, como o verbo ser (que em qualquer língua que eu já tenho visto, é SEMPRE irregular), o verbo ter, o haver e tantos outros que por aí se vão. Aqui, o objetivo seria sempre simplificar, já que essa gente não tem interesse em usar a língua como arte, mas como protocolo de comunicação. Quanto mais fácil, melhor!

Como a educação não é uma função degrau, em que só existem os "educados" e os "não-educados", existiriam vários pontos de encontro no meio dessa bagunça, os quais trariam novas palavras para o miolo (estou tentando fazer um oposto à "nata" aqui) e, por outro lado, empurrariam novas regras simplificadoras para a nata. Através dos tempos, infelizmente, afundamo-nos em um problema: se por um lado a educação se tornou alcançável por uma parcela maior da população, a elite intelectual se esvaziou de seu senso de novidade e passou a simplificar a língua em vários aspectos. A "elite produtora de cultura" (se antes houvera -- ou, ao menos, eu citara -- somente os escritores, agora há rádio, TV, internet, e muito mais!), em vez de manter o seu nível superior, ignorando o miolo, permanecendo sempre à frente, criando novas estruturas, novas regras, e novas idéias à língua, arqueou-se fronte a ele, simplificando-se, profanando-se.

Nessa mistureba, nessa "média" entre a nata e a chinelagem, a elite passou a aceitar que talvez algumas funcionalidades fossem simplesmente desnecessárias. Passou a atorar, a aleijar, a desmantelar a língua. Na sua loucura, esqueceu-se das diferenças na formalidade entre o "você" e o "tu"; removeu o Pretérito Mais-que-Perfeito; eliminou a trema e o acento diferencial. A língua empobreceu. A "elite", que define o certo e o errado, politizou-se -- até o Ronaldinho, que não lê, dela ganhou prêmio.

(tem uma coisa que a minha suposta resposta não consegue comtemplar: a produção vinda do miolo! O miolo é responsável por uma quantidade IMENSA de expressões idiomáticas, como "com o pé atrás", "nas coxas", "João-sem-braço", "com o pé na cozinha", "já é ou já era", etc. Se a nata se esqueceu de cumprir com o seu papel, ao menos tenho de dizer que o miolo não tá indo tão mal)

Algumas dúvidas me consomem: empobrecemos, empobrecemos e empobrecemos. Será que chegaremos a um fundo-do-poço de onde, a partir de certo momento, voltaremos a enriquecer continuamente a nossa língua? Será que um dia resgataremos as perdas a que estamos nos submetendo?


(após escrever essa postagem, achei que talvez fosse legal mostrar algumas das perdas às quais me refiro. Então... enfim... num futuro relativamente próximo, acho que o leitor as verá)

R$

1 de set. de 2012

KL#7 -- Mestres

Disclaimer (cumé que se traduz isso?)

Antes de começar essa postagem, é necessário que ao leitor sejam esclarecidos dois importantes pontos:
  1. Essa postagem foi idealizada em um daqueles momentos em que qualquer coisa parece fazer todo sentido, a saber, no caso, em um momento de insônia. Uma vez, li na Super Interessante (ótima fonte de informação, em? lol) que quanto mais com sono estamos mais nos falta uma certa substância responsável pelo nosso senso de realidade, o que, por vezes, nos ajuda a pensar que algo completamente aleatório poderia naturalmente fazer todo o sentido. Se o é verdade, não sei dizer; mas que me parece aceitavelmente condizente com a realidade... ah, sim parece!
  2. O leitor assíduo deve já saber que nesse blog, em geral, evito mencionar nomes. Assim, apesar de essa postagem ser relativamente "direcionada" a algumas pessoas (não que eu realmente pretenda que ela seja lida pelas tais, mas, bem, o leitor entenderá), ela não dirá quem elas sejam. Com o intuito de identificá-las, me bastará fornecer algumas informações não críticas sobre ambas.

Postagem em si

Essa semana, ou, mais precisamente, na madrugada do dia 26, foi embora aquele que fazia as vezes de "meu orientador" aqui na universidade: um pós doutorando, responsável por controlar o número de horas durante as quais eu ficaria no lab, verificar o quão bom tem sido o meu progresso e definir quais seriam as tarefas (ou, na verdade, quem é que me daria tarefas) no próximo "intervalo" de tempo (o qual, em geral, durava uma semana).
Mestre Splinter

Porque eles tiveram uma má experiência no ano anterior (ou ao menos foi o que eu ouvi) com o brasileiro que aqui estava, ele no início demonstrou uma certa cobrança maior do que me era esperado. Com o tempo fui perceber que não era ele quem cobrava (minha impressão era de que ele tava meio que "cagando e andando", na real), mas o professor (que coordena o lab), que ainda comigo tinha um pé atrás.

Como essa foi a minha primeira real "experiência profissional" até então, e estando eu num lugar onde (ao menos eu esperava que) as relações sociais não deveriam se "confundir" com as relações profissionais (apesar de eu usar o MSN para me comunicar com o pessoal do lab), procurei sempre manter uma relativa e suficiente distância. Um exemplo: apesar de usar português para me comunicar (o que em geral leva a um ambiente um pouco mais descontraído), tendia a evitar palavrões.

Quase o mesmo ocorria com um doutorando do lab, também brasileiro. Como passei boa parte do meu tempo até agora fazendo um programa onde o responsável era ele, passei esse tempo me comunicando com ele, tentando sempre manter aquela distância típica da minha parte quando o assunto sobre o qual eu falo é sério. Por outro lado, como não tinha, na verdade, de responder diretamente a ele por tudo o que eu andasse fazendo no lab, com ele não me importava tanto em "profanar o ambiente de trabalho" com conversa fiada, se por qualquer motivo ela surgisse.
Mestre Yoda

Quando peguei catapora, em Junho, ambos se dispuseram a me ajudar em qualquer coisa que fosse necessária. Como bons brasileiros e conhecendo a possível desestabilidade psicológica que o estar longe de casa pode trazer (não que eles [ou eu] tenham[os] passado por isso, mas, lol, tem gente que até se mata), pediram que eu com eles entrasse em contato se tivesse qualquer problema. O leitor que já me conhece sabe que não gosto de pedir as coisas a outrem -- especialmente quando não tenho muita "afinidade" -- e que, portanto, uma probabilidade bem pequena de que eu realmente fizesse o que a mim pedido fora havia.

Com a saída do agora pós-doutor, ou, na verdade, com o aviso de que a sua saída se aproximava, alguns pensamentos vieram à minha mente. Mas... antes... mais detalhes:

Dos meus amigos com quem eu para cá pra Alemanha vim, alguns festeiros acabaram se dando muito bem com o meu "orientador" (usarei essa palavra sem aspas daqui pra frente pra denotar o pós-doutorando, já que, na real, era isso que ele era, no fim das contas): saíam e bebiam de vez em quando. Pra mim era legal: apesar de eu não me comunicar consigo (não bebo, não faço nenhuma loucura aleatória e nem gosto de festas -- não tinha muito sobre o que conversar), através dos meus colegas tinha como finalmente ter um feedback sobre o quão bem ía o meu trabalho aos olhos dos meus "superiores" no laboratório (já que a mim pouco ou nenhum retorno é dado, normalmente).

Senhor Miyagi

No fim de Julho, fomos eu, o professor do laboratório (o qual surpreendetemente fala bem mais português do que eu esperava), e os dois brasileiros a uma churrascaria que havia aberto aqui na cidade (churrascaria fodasticalhona! Saciei completamente a minha saudade de um bom churrasco!). Ao término da janta, percebi pela primeira vez que talvez essas pessoas -- com quem eu convivo tanto e a quem eu respondo frequentemente no laboratório -- também participavam da minha vida social! Não que eu não o soubesse já, mas foi algo que me fez pensar: diferentemente das situações de sempre, não havia resposta certa ou comportamento esperado. Eu não estava no ambiente de trabalho!

Bom... essa semana, como eu disse, foi embora o meu orientador. Virou professor, ou seja, exatamente aquilo que almejo, num futuro distante, alcançar. Tenho orgulho de ter passado por "seu caminho". Mesmo assim, não aprendi um décimo do que talvez através dele poderia ter aprendido. Respondi às suas orientações, atribuições de tarefas, e só. Não "fiz parte de sua vida", i.e., não participei de sua vida social a ponto de talvez ser lembrado num futuro distante. E a recíproca não é verdadeira.

Essa postagem, assim, tem o objetivo de expressar, de alguma forma, o quão importantes são esses dois brasileiros com os quais convivo (e convivi) tanto e através dos quais aprendo (e aprendi) muito. Ao longo da postagem, o leitor passou por imagens de seres que, nos seus universos, foram considerados mestres pelos "personagens principais" de suas "realidades". Meus superiores foram (e têm sido), assim, meus mestres através desse ano inteiro nessa terra distante. Agradeço-os...

R$

19 de ago. de 2012

De volta à ativa

O leitor assíduo deve estar se perguntando: o que houve com o dono desse blog, que sumiu durante 3 meses? O leitor não assíduo, por outro lado, mal percebeu o desleixo a que esse blog foi submetido por esse longo tempo.

Verdade é que eu, o escritor, o dono do blog, o postador, lembrava, de quando em quando, desse lugar, onde meus pensamentos mais bem desenvolvidos (e também aqueles nem tanto) são postos em palavras; mas na falta de tempo ou de força-de-vontade de vir aqui escrever, acabava deixando o lugar parado, por mais algum tempo.

Até hoje!

A partir de quando voltei de Roma, passei a ter muito mais tempo! MUITO mais tempo! Tempo pra colocar os meus projetos em prática! E, como esse blog é um deles, cá estou, escrevendo nele, de volta.

Então... é isso aí! Nos próximos tempos, escreverei várias coisas aqui sobre o que tenho feito. Eu não tinha nenhum assunto em especial por agora em mente, mas só queria deixar o leitor (se é que ainda há leitores v_V) esperto para novidades que aqui virão.

R$

27 de mai. de 2012

Em Kaiserslautern #6 -- Deportado pela Rainha

Já faz um tempinho que eu não escrevo nada aqui, e inclusive já fazem duas semanas desde o ocorrido, mas como acho que boa parte dos meus amigos ainda não sabem -- e como creio na possibilidade de o leitor ser um desses ainda não informados -- eu fui deportado do Reino Unido, numa tentativa de ir fazer turismo em Londres.

Adorei essa foto, com os velinhos conversando ali no canto inferior direito, por exemplo (Bremen).

Tudo estava planejado: na quarta-feira, eu compraria meu celular -- para assim ter como me comunicar com a minha mãe, que fica toda cheia de dedos quando eu passo somente um dia sem dar qualquer notícia --, na quinta-feira cedinho sairíamos de casa (às 4h30 da manhã) para ir até Karlsruhe, onde pegaríamos o vôo para o Reino Unido. Como eu já estava há mais de 3 meses na Alemanha, achei que eu deveria levar um papel comprovando que, apesar de eu não ter o meu visto ainda, já tenho ao menos marcada a minha entrevista para o visto.

Diferentemente de mim, porém, meus outros três colegas não o fizeram (não pegaram o papel), o que não foi de todo uma atitude irresponsável: eles haviam conversado com uma pessoa da Universidade que lhes havia dito que isso não deveria ser necessário.

Chegando ao aeroporto em Karlsruhe (na verdade, o aeroporto fica lãããã no fim do mundo, como de Porto Alegre até a Barra do Ribeiro, e a gente foi de ônibus, o que deu mais ainda a impressão de que definitivamente não encontraríamos um aeroporto por lá), passamos pela pesagem das malas, pelos detectores de metal e, ao passar pela checagem do passaporte, tivemos nosso primeiro problema: o senhor que nos atendeu, como ficou desconfiado (só eu tinha o papel do visto), ligou para o lugar onde ocorrem as "entrevistas para o visto" (a gente sempre chama isso pelo nome em inglês, "visa appointment", o qual, a partir de agora, passará a ser o nome que usarei) e, tendo conversado com a pessoa do outro lado da linha, a qual confirmou as entrevistas, nos permitiu que passássemos.

Moinho de Bremen. Certamente, o ponto mais bonito da cidade.

Antes ele tivesse nos barrado ali: pegamos o vôo e finalmente chegamos ao Reino Unido. Londres (ou onde quer que estivéssemos -- esses aeroportos da Ryanair sempre ficam super distantes da cidade) estava, como sempre, nublada, relativamente fria. Entramos no aeroporto, passamos por uns corredores, chegamos a um lugar onde havia um pequeno formulário para preenchermos. Preenchemos e, ao chegarmos no lugar onde checariam o nosso passaporte, novamente, ficaram desconfiados, pois, como já dito, já estávamos há mais de 3 meses na Alemanha.

Eu -- que deveria ter sido o primeiro a ir mostrar o passaporte, já que tinha o papel do visa appointment (mas o pessoal rushou na frente ¬¬) -- acabei sendo o último a chegar no lugar de mostrar o passaporte. Quando cheguei, a mulher já estava dando uma bronca em um colega. Depois de alguns minutos, todos recebemos uns papéis do tipo "eu estou detendo você e retendo os seus documentos com o motivo 'quero ainda fazer algumas perguntas e esclarecer alguns fatos'".

Naquele momento, estávamos tranquilos, crentes de que seria só uma perda de tempo. Ainda estávamos inclusive fazendo planos para o que faríamos nas horas que nos sobrassem daquele dia. Após mais ou menos uma hora (ou até mais), 4 pessoas vieram e nos pediram que os acompanhássemos. Fomos até uma sala onde revistaram nossa mochila. Os "revistadores de mochila" pareceram bastante legais. Contaram nosso dinheiro, pediram que assinássemos uma declaração de que eles pegaram o nosso dinheiro mas que já o tinham devolvido, conversaram tranquilamente sobre vários assuntos. Eu inclusive perguntei o que haveria de acontecer nos momentos subsequentes, no que o meu "revistador de mochila" disse que só teríamos que esperar por mais algum tempo. Me pareceu ainda certo de que estaríamos livres em só mais alguns instantes.

Depois de revistadas as mochilas, fomos levados, cada um a uma pequena sala com uma mesa e duas cadeiras. Eu esperei lá por alguns momentos, lendo um livro em várias línguas que dizia os meus direitos naquele lugar e, após alguns momentos, um senhor entrou e me revistou. Ele parecia amedrontado... como se eu fosse um criminoso ou qualquer coisa parecida. Mas... ok, revistado, me levou até uma outra sala (um pouco maior) onde finalmente os direitos sobre os quais eu li ficaram claros: eu poderia comer, escovar os dentes, assistir TV e inclusive dormir lá, se o quisesse. Lá encontrei um colega -- dos que também haviam sido detidos -- e mais uma brasileira, que morava na Espanha e que havia sido barrada pela alfândega também. Logo chegaram os outros dois brasileiros... e aos poucos um a um foi sendo chamado a ter uma conversa com o cara que decidiria se ficaríamos ou não no Reino Unido. Eu não tenho mais certeza, mas acho que fui o primeiro; no fim da minha conversa, o cara falou que achava que nos mandaria de volta à Alemanha, de onde havíamos saído.

"Norddeutsches Landesbank" (Hannover), como diz a Wikipedia.


Ainda não era certo: o cara havia dito um "I think". Mas aos poucos, conforme os outros foram sendo chamados, foi ficando cada vez mais claro que deveríamos ser enviados de volta. Passamos, admitimos depois, pelos cinco estágios pelos quais alguém passa ao lidar com a perda: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Durante o estágio de raiva, fizemos o que o brasileiro de melhor sabe fazer: "se vamos ser mandados embora, então temos mais é que aproveitar ao máximo esse lugar, porque tudo aqui é de grátis". Comemos tri bem lá: sanduíche, café, arroz (eu não comi, mas disseram que estava ruim) e até lasanha. Essa última, não estava das melhores, mas também não posso reclamar: burro dado não se olha as orelhas. Assistimos Jurassic Park, eu li uma bíblia que tinha lá, comi várias balas, e inclusive conversei com o pessoal que lá trabalhava. Como a guria não entendia inglês, toda vez que ela precisava de alguma coisa a gente agia como "intérprete" dela. Os fiscais agradeceram várias vezes quando, ao tentar falar algo pra ela, a gente traduzia.

Após algumas horas, disseram-nos que dois seriam mandados para Dusseldorf e outros dois para Bremen. Eu iria pra Bremen. Ao sair, os fiscais nos cumprimentaram, riram, deram tchau, e já estavam bem de bem com a vida com a gente. Como o vôo de Bremen sairia meia hora antes do de Dusseldorf, tive de sair antes. Fomos levados por um dos trabalhadores lá até a fila do avião; mas como estávamos sendo deportados, teríamos de ser os primeiros a entrar no vôo. O fiscal conversou sobre várias coisas, comentou que já tinha ido ao Brasil (a Foz do Iguaçu e ao Rio de Janeiro) e comentou sobre as favelas do Rio (ele usava a palavra "favela" e ele não conseguia achar uma palavra que tivesse o mesmo significado em inglês -- alguns dias depois assisti a algum video no youtube em que usaram uma outra palavra, em inglês mesmo, da qual não consigo agora me lembrar). Ele inclusive elogiou o nosso inglês \o/

Finalmente, ele entregou o passaporte para o pessoal do vôo e saiu -- e nós fomos sentar em algum lugar dentro da aeronave. Eu estava naquele momento com MUITA dor de cabeça (só lembro disso), e eu lembro que o colega com quem eu estava ficava repetindo frequentemente que tava muito cagado e que queria o seu passaporte. Durante o vôo, várias vezes cri que em algum momento nos devolveriam o passaporte. Como não aconteceu, ao chegarmos em Bremen, fomos pedi-lo. Nos entregaram (tranquilo) e entramos na fila para mostrá-lo ao pessoal da Alemanha.

Ali o pavor apertou: se não conseguíssemos entrar na Alemanha e fôssemos deportados de volta para o Reino Unido, seríamos então deportado do Reino Unido para o Brasil, i.e., ía dar merda. Dessa vez, fizemos a coisa do jeito certo: eu cheguei primeiro e mostrei meu passaporte && e meu papel que comprovava que eu já tenho o visa appointment. O cara não entendeu de cara o que significava aquele papel, no que pediu pra irmos num outro lado lá da cabinezinha onde ele estava e explicar a situação. Foi muito simples: explicamos o que houve -- ele viu que fôramos deportados do Reino Unido -- e ele simplesmente explicou que não poderia fazer nada em nosso favor para mandar-nos de volta para lá, e que infelizmente teríamos de voltar para a nossa cidade por nossa conta; mas em momento algum cogitou que não teríamos o direito de entrar na Alemanha.

Infelizmente, os nossos amigos em Dusseldorf não tiveram a mesma sorte: perderam um bom tempo explicando e inclusive ligaram para o cara da Universidade, o qual mandou alguns papéis comprovando que eles eram estudantes sim da Universidade de Kaiserslautern. Depois de algum tempo, foram finalmente liberados. Foram até Köln (que era mais perto do aeroporto do que Dusseldorf) e lá dormiram na Bahnhof (a estação de trem).

Na frente da Bahnhof de Frankfurt.
Infelizmente, em Frankfurt ficamos só uns 30min...
por isso, não tenho fotos muito boas D=
Enquanto isso, eu e o meu colega ligamos para um hostel que achamos na internet (foi muito bom eu ter comprado aquele celular no dia anterior). Perguntamos se haveria lugar, no que a guria explicou os lugares/preços do hostel. Dissemos que iríamos para lá, e, como a guria tinha que sair duma vez (ela disse que teria de acordar cedo no dia seguinte), pegamos um táxi até o local.

No fim das contas, apesar de não ter sido talvez tão divertido quanto teria sido em Londres, a viagem não me foi tão mal assim: conhecemos Bremen (que é uma cidade bem bonitinha) e, no caminho de volta pra casa, passamos por Hannover (outra cidade bem legal). Como já era sábado quando voltaríamos para a casa (ficamos duas noites em Bremen: quinta e sexta), pudemos pegar um ticket chamado "Schönes Wochenende" (Belo Fim-de-semana -- numa tradução livre), através do qual é possível andar pela Alemanha inteira pelo preço único de 40€ (e o ticket ainda pode ser dividido em até 5 pessoas... o que, no melhor caso, significa 8€ para viajar pela Alemanha inteira no fim de semana).


Através desse ticket, voltamos para Kaiserslautern, numa viagem que durou mais ou menos 10h. Não posso reclamar: foi divertido conhecer os lugares pelos quais a gente passou -- e dos quais eu tirei até que bastantes fotos legais.