31 de ago. de 2011

"X"

[esta postagem tem relativamente forte influência religiosa. Se você tem problemas com isso, pode simplesmente ignorá-lo -- bem como, na realidade, qualquer outra postagem do blog, já que ninguém é obrigado a ler u.u]

De todas as coisas que eu faço, talvez haja pouquíssimas (MUITO pouquíssimas) que me agradem tanto quanto ou mais do que ser (como um ato) um estudante de Ciência da Computação de uma universidade reconhecida no país e agir como um entusiasta dessa área do conhecimento que definitivamente é a área para a qual eu quero devotar o resto da minha vida. Pouquíssimas! Mesmo assim, acho que para qualquer um que conviva um mínimo comigo não seja difícil chutar a que coisa eu poderia me referir com tamanho prazer (a ponto de comparar com a computação). De qualquer forma, creio que errariam: possivelmente, chutariam "música"; certamente, a resposta é "cantar" (o importante é notar que não é a música que me agrada tanto, mas cantá-la -- se bem que, é claro, música também me agrada bastante, mas não a ponto de ficar acima ou se comparar à computação, e isso fica bem evidente pra mim quando eu reconheço que não me arrependo nem por um segundo em ter escolhido computação, em vez de música, no vestibular).

No domingo passado, dia 28 de agosto, um dos dois corais religiosos dos quais participo (que eu e mais alguns amigos chamamos rebeldiosamente de "Coral X", apesar de seu nome ser na verdade "Patmos" -- Patmos é uma ilha, e na verdade o motivo do nome do coral não faz muito sentido pra mim) foi cantar em Cidreira, no litoral, à noite. Por conta disso, o domingo inteiro foi à base de viagem de ônibus e coisas relacionadas ao coral e à igreja. Além disso, o sábado também teve boa parte dos seus momentos (quase todos) ocupado com coisas relacionadas à igreja e aos corais.

Na ocasião, um dos integrantes do coral, bastante entendido dessas coisas de filmagens e fotografia, levou a sua câmera e, com os microfones do regente do coral, gravou o nosso audio, enquanto cantávamos. Queríamos gravar, principalmente, para que pudéssemos verificar nossos erros durante a apresentação, mas também para que pudéssemos mostrar o nosso "trabalho" (falando assim até parece que a gente sofre pra fazer isso u.u) para outras pessoas que conhecemos. O resultado é que ficou bem legal (na minha "omilde" opinião), e eu posto o video da música "Jesus, Amigo Fiel" a seguir, para que o leitor assista:



Cantamos 8 músicas, se não me engano, ao todo. Infelizmente, uma ou duas não foram postadas no Youtube. De qualquer foram, estão no Youtube as seguintes: Servo do Senhor, Nada Melhor, Bendita Segurança, Meu Novo Lar, Saudade.

Bom... o que posso dizer? Eu, como participante do coral, fiquei SATISFEITÍSSIMO com como ficou. Apesar de alguns pequenos focos de desafinação aparente em quase todos os videos, o todo ficou bem legal.

Ao mesmo tempo, admito que fico meio que "mordidinho" com os gritos de "Glória a Deus" e "Aleluia" que as pessoas emitem no meio das músicas (inclusive integrantes do coral). Mesmo assim, não posso reclamar: isso faz parte da cultura da igreja da qual faço parte, feliz (porque por um lado é, pra mim, até, bonito esse tipo de "declaração") e infelizmente (porque por outro pessoas que não participam do meio podem achar o ambiente muito esquisitão u.u).

Enfim enfim... eu ADOREI os videos (mas, claro, sou suspeito pra falar). Achei ótimos... muito divertido \o/. Se o leitor tiver gostado, ou não, comente, é de grátis (bem como o evangelho) u.u //sacas

R$

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Depois do culto a gente ganhou um lanche que tava tri bom. Entre os bolos, tinha um que era branco com umas "manchas" pretas de nega-maluca no meio. Uma das gurias mais "escuras" do coral comentou que o bolo tava com aquelas cores pra simbolizar a misturança que são as cores das pessoas participantes do coral. Eu ri u.u  [/politicamente incorreto]

24 de ago. de 2011

Makefiles, Autotools, bolsa de iniciação científica, MClone, etc...

(Esse post é praticamente uma continuação do post "Documentando")

Como o leitor que leu o post anterior já deve saber, eu estou tri feliz por estar documentando o MClone. Já expliquei várias coisas, tendo criado alguns arquivos de documentação conforme ía preparando o programa para compilar no computador que uso lá no laboratório.

Hoje tive uma reunião com meu professor, na qual comentei com ele sobre o que andava fazendo. Meu próximo passo seria fazer o Makefile para que semana que vem a gente visse se ele conseguiria compilar o programa no Mac dele. Por causa disso, fui ler sobre Makefiles. Procurei por alguns tutoriais na internet, mas, pelo visto, com esses arquivinhos, ou é oito ou é oitenta: os tutoriais eram muito básicos, mas a documentação do GNU make é grande demais, e eu a evitaria o quanto pudesse. Infelizmente, definitivamente, não achei lugar melhor. Desisti e fui pra documentação. Ela é enorme, e já perdi umas boas horas lendo-a. Aprendi UM MONTE, e pra falar a verdade não posso dizer que me arrependo: nela encontrei vários macetes interessantes.

A minha primeira idéia era fazer uma Makefiles bonito, que funcionasse e que fosse elegante. Resolvi que o farei, pelo aprendizado, mas não deixarei ele lá por muito tempo. Se o tempo permitir, quero ver se leio sobre outra coisa que já adiava há tempos ler: Autotools. Desde uns dois anos atrás pra cá tenho o link de um tal de Autotools: a practitioner's guide to Autoconf, Automake and Libtool que uma vez eu achei na internet procurando pelo motivo de haver uns tais de Makefile.in e Makefile.am (se não me engano era isso) num projeto que eu estava tentando compilar. Agora tenho desculpa pra ler! E uma ótima desculpa, já que tenho me sentido com a maior satisfação do mundo mantendo ativamente um projeto no googlecode (infelizmente, não é um projeto que tenha muita chance de se tornar popular D=).

Para melhorar a minha vida, aliás, tenho deixado todo o código numa pasta do Dropbox, através da qual consigo mexer no código do programa de qualquer lugar. Agora mesmo, ao chegar em casa, lembrei que tinha algo que eu deveria ter feito antes de sair de lá dos labs. Abri o arquivo pela pasta do Dropbox, fiz as modificações que queria, e commitei no svn. Funcionou lindamente \o/ (eu tava com medo de o svn reclamar, por qualquer motivo, mas não aconteceu).

Ao término desse semestre, enfim, acho que vou estar fodão com Makefiles e Autotools =D. Tomara: esse é o tipo de coisa que eu acho muito tri e útil. Só falta eu aprender a usar decentemente um shellzinho u.u

Era isso...

R$

21 de ago. de 2011

Novo Design

Essa postagem deve ser curta...

Desde o início do blog, tenho usado o mesmo design, azul com laranja, e tudo mais. Como meu irmão me sugeriu, aquele design era "antigo" e pessoas desatentas que conhecessem um pouquinho do blogger como meu irmão (na real, eu acho que meu irmão conhece até demais isso) poderiam ter a impressão de que o blog não é atualizado há algum tempo (apesar de, como argumentei pra mim mesmo, as datas aparecem cintilantes próximo ao título de cada postagem).

Por fim, como estava com preguiça de ler o que eu tenho pra ler (hey, hey, isso me lembra o seguinte video, em seus primeiros 25segundos:



), resolvi dar uma mexida aqui ou ali no leiaute do blog e, acho, ficou bem melhor do que antes, além de "atualizado". Além disso, finalmente consegui fazer o "Rabanetes Cebolas" do título do blog ficar bonitinho, aos meus olhos, é claro.

Por fim... era isso... só pra avisar do novo design, caso o leitor tenha sido capaz de não notar u.u

R$

20 de ago. de 2011

Documentando

Estou muito satisfeito com a bolsa de iniciação científica, a qual começou oficialmente este mês.

O meu objetivo, durante meu trabalho lá, será implementar a paralelização do código do MClone, a.k.a, a implementação do trabalho de doutorado do meu professor. Quando peguei o código pela primeira vez, ele estava uma bagunça (ainda está). Desde o seu desenvolvimento inicial, em torno do ano de 1999, um bom número de pessoas, para diferentes fins, modificou o código do MClone. Como elas gostariam dos créditos de sua modificação, causaram um monte de poluição incluindo comentários do tipo "modificado por 'insira_nome_aqui' em 'insira_data_aqui'". Além disso, como não tinham o objetivo de manter o código usável para outrem num futuro distante, não parecem ter se preocupado muito com a legibilidade, mantendo comentadas (das mais variadas formas possíveis) as partes "obsoletas".

Em um certo momento, no início do ano, quando eu comecei a entrar em contato (contato muito frágil, digamos assim) com o programa, percebemos a bagunça. Algumas partes estão muito bonitas, com código limpinho e bem documentado. Outras partes estão complicadas, cheias de comentários aleatórios de código antigo e estruturas de dados com nomes nem um pouco convencionais (e.g., tem uma lista encadeada com o nome de Array). No meio do semestre passado, pegamos cada arquivo e demos uma olhada em o que cada coisa faz. Decidimos que faríamos uma série de classes e reestruturaríamos tudo. Apesar de eu participar dessas reuniões, muito pouco mexi no código até agora: quem mais arrumou (e fez um ótimo trabalho, reestruturando em pastas as classes -- antes, como o código era majoritariamente em C, quase nem víamos classes; agora, as coisas já estão encaminhando, creio --, sempre versionando através do projeto do MClone que a gente criou no GoogleCode) tudo foi o mestrando que trabalhava comigo.

Agora, no início do semestre, voltei a mexer no código. Como precisava conseguir compilar o programa no Ubuntu que eu instalei numa máquina lá da Computação Gráfica, e como pretendia utilizar o Eclipse, e como ao programa faltava um Makefile (acho que ele se perdeu no meio das reestruturações), resolvi documentar tudo, desde o que se deve fazer para compilar utilizando o Eclipse até como é que se faz para instalar as bibliotecas necessárias ao programa. Foi isso que fiz durante quase o dia inteiro de quarta-feira, e isso que pretendo terminar de fazer na segunda-feira.

Documentando o código, percebi algo interessantíssimo: eu ADORO documentar. Adoro escrever explicações sobre de que forma é possível fazer algo que não seria óbvio para qualquer um.

Lendo A Catedral e o Bazar, do Eric Raymond, esses dias, eu me deparei com a seguinte frase (negrito feito por mim):

Many people (especially those who politically distrust free markets) would expect a culture of self-directed egoists to be fragmented, territorial, wasteful, secretive, and hostile. But this expectation is clearly falsified by (to give just one example) the stunning variety, quality, and depth of Linux documentation. It is a hallowed given that programmers hate documenting; how is it, then, that Linux hackers generate so much documentation? Evidently Linux’s free market in egoboo works better to produce virtuous, other-directed behavior than the massively funded documentation shops of commercial software producers.

Eu não sou lá um programador grande coisa... então acho que posso ser bom em documentar (e gostar disso), mesmo, né?

Finalmente, meu professor estava reclamando sobre o fato de que o porte que uma das pessoas que mexia no código antigamente fez para Mac não funciona no computador dele. Sinceramente, acho que após as minhas pequenas arrumações há uma relativa chance de que o programa passe a funcionar no computador dele também - o que seria algo bem legal, né?

Era isso, enfim... o todo foi mais para explicar que eu percebi que gosto de fazer documentação u.u

R$

14 de ago. de 2011

Músicas internacionais - um pouco mais sobre língua

Desde que me conheço por gente, ouço músicas internacionais. Na TV, em filmes, em desenhos, na escola (nas aulas de inglês, por exemplo, ou mesmo nos toques de celular que as pessoas põem hoje em dia), etc...

Algo que sempre me chamou a atenção, de qualquer forma, foi o fato de que, apesar de o imperialismo norte-americano ter já nos forçado a aprender boa parte de suas músicas "dos tempos de hoje", mesmo que frequentemente sem querermos (quem é que nunca ouviu Another Brick in the Wall, por exemplo, ou a Friday da Rebeca Black? -- se bem que a internet é um caso meio que a parte), nos tempos da música "clássica" (em seu mundo fechado, de antigamente), os imperialistas não eram falantes da língua inglesa: eram alemães e italianos, em sua grande maioria.

Quem é que nunca ouviu sequer uma vez, por exemplo, essa parte da La Traviata, ou La Dona E Mobile. Quem é que nunca ouviu ou viu algum desenho referenciar "O Barbeiro de Sevilha" ou algum filme referenciar a Marcha Nupcial do Richard Wagner. Aliás... até o Hitler gostava desse último cara, e usava a sua Cavalgada das Valquírias como background para seus discursos (ao menos foi o que eu ouvi falar -- não sei se é verdade mesmo u.u).

Tá certo: eu realmente não faço idéia de qual seja a época de cada um desses autores. Mesmo assim, não se pode negar que a grande maioria desses caras (que fazem sucesso entre as músicas ditas "clássicas) era de uma das duas nacionalidades citadas (e nem precisei citar Handel, Mozart, Beethoven, e Bach, por exemplo).

O objetivo de escrever sobre essas nacionalidades foi porque eu estava enculcado com uma coisa: os corais brasileiros que cantam músicas dessas línguas em geral não sabem o que estão dizendo -- e possivelmente não estejam nem pronunciando adequadamente as sílabas de cada uma de suas palavras. Tenho o exemplo da OSPA: o pessoal do coral muito pouco sabe sobre essas línguas!

Esse assunto me veio à cabeça quando, ontem, eu ensaiava, num dos dois corais religiosos de que faço parte, a música "Oh, Happy Day". Por sorte, eu e o mano (meu irmão gêmeo) não temos problemas com o inglês e pudemos ajudar na pronúncia tranquilamente. Mas a grande maioria (por mais inacreditável que isso possa ser pra quem vive em meio a inglês o tempo todo, jogando, ouvindo música, vendo videos, etc) lá tem tanto ou menos contato com inglês quanto, acho, eu tenho com o alemão (ou seja, conhece algumas palavras -- muitas delas relacionadas ao contexto religioso -- mas não sabe pronunciar, nem mesmo entende a estrutura das frases -- tá... acho que chego a estar melhor no alemão do que grande parte deles no inglês). Mesmo assim, o resultado foi o mesmo que eu enxergo quando assisto à OSPA (é raro, mas eu acho que lembro o suficiente): no meio da bagunça, a pronúncia parece bem certa. A gente tentou simplificar ao máximo as pronúncias (ao ponto de a gente dizer que "taught" deveria ser pronunciado "tóg"). Sinceramente, eu não notaria que eles não sabem quase nada de inglês se eu ouvisse o coral de fora. Fiquei satisfeito. A música saiu bem melhor do que eu esperava, e acho que logo estaremos cantando por aí quando sairmos pra "cooperar" (é o jargão religioso pra "se apresentar" no nosso contexto).

Por fim, o último problema era o seguinte: eu não gosto de cantar sem saber o que estou dizendo, mesmo que esteja "cantando certo" -- não que isso influencie em se eu vou gostar da música ou não, mas só pra saber mesmo. No próximo ensaio combinamos de ter a música traduzida pra todo mundo saber o que está dizendo (para corais não religiosos acho que isso não faria tanta diferença; mas acho que no nosso contexto faz bastante sentido: ninguém gostaria de sair "spreading" algo diferente do que pensa).

Era isso...

11 de ago. de 2011

Academia

FINALMENTE comecei "academia".

Como falarei em um post futuro, musculação e treino, e seus respectivos derivados são palavras que me incomodam um pouco, e que eu frequentemente evito usar. Mesmo assim, acho que é bom tentar terminar com esse problema (tentemos):

FINALMENTE comecei musculação.

Lendo o "How to Become a Hacker", do Eric Raymond, me deparei com esse parágrafo, onde o Eric Raymond fala que trabalho repetitivo e desnecessário deve ser evitado a todo custo, e que sempre deve-se tentar automatizar aquilo que frequentemente fazemos e que não demanda esforço. "Levantar peso", de certa forma, sempre me pareceu algo desse gênero (eee, sinceramente, eu não sei o que fez com que eu realmente quisesse começar a fazê-lo nesses últimos tempos). De qualquer forma, após ler essas coisas, me deparei com o seguinte parágrafo:

"(There is one apparent exception to this. Hackers will sometimes do things that may seem repetitive or boring to an observer as a mind-clearing exercise, or in order to acquire a skill or have some particular kind of experience you can't have otherwise. But this is by choice — nobody who can think should ever be forced into a situation that bores them.)"

Traduzindo livremente:

(Há uma execção aparente a isso. Hackers às vezes farão coisas que podem parecer repetitivas ou tediosas para um observador como um exercício que limpe a mente, ou com o objetivo de adquirir uma nova capacidade ou ter algum tipo particular de experiência que você não poderia de outra forma ter. Mas isso é uma escolha ninguém que pode pensar deveria ser forçado a estar em uma situação que a tedie em momento algum.)

Lendo esse parágrafo, muitos leitores poderiam pensar "tá... mas qual capacidade tu quer adquirir?". Nenhuma: procuro tratar esse levantamento de peso um exercício de "limpeza de mente", um exercício durante o qual eu não precise pensar em nada, ou possa pensar em coisas quaisquer. Um exercício que não exija concentração maior do que a necessária pra contar até 10 (ou 15, às vezes u.u). Enfim... eu realmente acho a atividade completamente tediosa, mas tenho plena certeza de que ao menos durante um mês eu vou permanecer participando dela todos os dias em que me é permitido participar (até porque eu já paguei, e isso significa MUITO pra mim v_v').

Finalmente, esse começo de academia tem sido um tanto difícil: não aguento aquele ambiente, cheio de pessoas que parecem querer demonstrar que estão lá há muito mais tempo e que já são infinitamente melhores do que eu nesse aspecto; tenho sentido bastantes dores, principalmente nas pernas (hoje passei o dia andando o mesmo que se tivesse me cagado nas calças); e não suporto não poder usar calças jeans - to usando umas calças de moletom que me fazem me sentir como se estivesse de pijamas D= - para praticar exercícios físicos. Nenhum desses problemas, de qualquer forma, se apresentar como grandes obstáculos, e acho que logo estarei acostumado a essa coisa toda.

O objetivo dessa postagem, enfim, era somente compartilhar um pouco sobre essa experiência estranha dos meus últimos dias.

Era isso...

R$


9 de ago. de 2011

Sobre a língua e os preconceitos sociais associados a ela

Alguns anos atrás, quando eu ainda fazia parte de verdade (hoje em dia não me sinto mais parte daquele departamento, apesar de, efetivamente, fazer parte dele) do "departamento de Jovens" (não sei qual é o nome de verdade do departamento) da igreja, fui a um retiro de carnaval (para quem não sabe o que é, é a forma como muitas igrejas conseguem fazer com que seus jovens evitem sair a "pular carnaval". Lá, eles passam os dias da "festa da carne" fazendo nada - sempre tem tempo definido pra justamente fazer nada u.u - e coisas relativas à bíblia e ao mundo cristão) num "lugar" (não sei como chama, se é parque, sítio ou o que) chamado "La Toma". Lá, durante os momentos de fazer nada, e como um amigo tinha levado um tabuleiro de xadrez (com imas e tudo mais) para jogar no tempo livre, me convidei para jogar consigo. Esse amigo, por acaso, era o Diego, um surdo. Na hora em que comecei a jogar, sem me ligar no porquê (e nem imaginar que esse porquê poderia ser importante), pensei coisas do tipo "aaa... vai ser fácil ganhar". O jogo foi acontecendo, eu cometi algumas mancadas, ele também (porque, afinal, acho que nem eu nem ele somos do tipo de gente que joga xadrez mais do que, quando muito, uma ou duas vezes por ano), e aos poucos eu fui percebendo que o tinha subestimado. Certamente que ele era bem melhor do que eu esperava. Mesmo assim, eu ganhei a partida =D.

O caso me foi marcante porque "por algum motivo" eu tinha achado que ele tinha de ser um mal jogador de xadrez. Imaginei, na época, que o motivo tivesse alguma relação com um possível preconceito "inconsciente" que eu tivesse contra ele e que, por acaso, naquele momento se fez aparecer. Aos poucos, acho, esse preconceito foi se "revelando", como vou explicar mais adiante...

Mudando dos paus pra canoa, o leitor obviamente concorda comigo quando digo que crianças têm um "seu jeito peculiar" de falar. Às vezes não concordam os gêneros direito, às vezes usam o pronome errado, às vezes não concordam os números direito (se bem que, convenhamos, nem a gente concorda), etc. No meu terceiro semestre na UFRGS, quando estava fazendo a cadeira de "Arq2" (Organização e Arquitetura de Computadores 2), tive um colega que, ao falar, às vezes, me lembrava uma criança. Ele era africano, de um país onde não se fala nativamente o português, e, apesar de já falar até que bem bem o português, ele ainda tinha algumas dificuldades, às vezes, para construir as frases em "tempo real". Ele tinha outra característica importante: perguntava SEMPRE. Era provavelmente o aluno que mais fazia perguntas na aula (ao menos naquela aula, onde praticamente ninguém falava nada u.u).

Logo no início do semestre, quando o seu "perguntar SEMPRE" passou a chamar a atenção (é que, realmente, ele perguntava affuuuu), fiquei com uma impressão ruim. Não sei por que motivo, mas achava que ele tinha alguma dificuldade, alguma problema que talvez tornasse as aulas mais difíceis pra ele. Talvez até fosse algum problema "da cabeça", sei lá. Bobagem! Era o meu preconceito falando mais alto denovo. Quando comecei a pensar que ele talvez falasse mais línguas que eu (o que não é tão difícil assim, mas, enfim), que tinha saído do seu país e vindo pra um lugar totalmente novo, com outra cultura, e, assim, enfim, tinha provavelmente já experienciado muito mais coisas do que eu sequer poderia imaginar à época, percebi o meu erro.

Esses tempos, no dojo de programação, apareceu um dos intercambistas da Alemanha pra participar. Como falava pouco e seu nome era "normal" (acho que era Raphael), eu nem percebi que era alemão. Em vez disso, estava já ficando com a seguinte impressão: "burro" o cara não é, afinal, ele tava na UFRGS e demonstrava conhecer já algumas linguagens; mas definitivamente algum problema social o cara tem. O problema social era a língua u.u. Quando percebi que o cara era alemão (o cara fala português tri bem já pra quem está desde março, acho, aqui), me liguei que o meu preconceito estava tentando gritar denovo.

Mas que preconceito é esse de que eu tanto falo? Aos poucos, com o convívio com os surdos e com pessoas aleatórias de outros lugares que passam pela minha vida, tenho percebido que, quando uma pessoa não domina bem a língua "do lugar", é fácil imaginarmos que ela também não domine bem outras "faculdades mentais", digamos assim. Pondo de uma outra forma, a gente (ou, ao menos eu, mas, chegarei lá, chegarei lá) tende a esperar pouco, i.e., subestimar, em geral, as pessoas, quando elas não dominam a língua "que esperamos que ela domine".

Um professor de português do cursinho (o Marcelo, ou Mamute, como o chamavam), em 2007, disse mais ou menos a mesma coisa. Lembro que na época ele defendeu sobre como é comum a gente julgar uma pessoa pelo modo como ela fala e como é fácil a gente subestimar a capacidade de uma pessoa só porque às vezes ela tem dificuldades de comunicação.

Também, o Eric Raymond, um dos caras fodões da cultura de código aberto, escreveu no seu "How to Become A Hacker" (esses dias fui ao site dele, como quem não quer nada, e, por acaso, encontrei esse texto. Só pra saber o que ele dizia, me parei a ler. Gostei =D), o seguinte:

"Being a native English-speaker does not guarantee that you have language skills good enough to function as a hacker. If your writing is semi-literate, ungrammatical, and riddled with misspellings, many hackers (including myself) will tend to ignore you. While sloppy writing does not invariably mean sloppy thinking, we've generally found the correlation to be strong — and we have no use for sloppy thinkers. If you can't yet write competently, learn to."

(para o caso de alguém não entender, vou traduzir livremente - vai ficar horrível, mas vamos lá):

"Ser um falante nativo de inglês não garante que você seja bom na língua o suficiente para ser um hacker. Se sua escrita é semi-literal, não gramatical, e enigmática em função de erros de ortografia, muitos hackers (incluindo eu) tenderão a ignorá-lo. Enquanto escrita desleixada não invariavelmente significa pensamento desleixado, em geral percebemos que a relação é forte - e não vemos utilidade alguma para pensamento desleixado. Se você ainda não consegue escrever competentemente, aprenda."

O leitor vai me dizer "tá... mas isso aí tem a ver com a escrita, e não com a fala". Mesmo assim, na minha opinião, o caso é o mesmo: o problema está principalmente na falta de domínio sobre a língua, eu diria. Infelizmente, como a forma de comunicação nesse caso é escrita, o julgamento fica ainda mais prejudicado, na minha opinião.

Finalmente, me uso como exemplo: frequentemente, quando em meio a pessoas que eu já conheço e com quem me dou bem, me demonstro [até que] com facilidade de comunicação (ou ao menos mais ou menos isso u.u), e tenho a sensação de que as pessoas não têm impressões ruins quanto às minhas capacidades mentais. Por outro lado, às vezes, quando em situações que exigem um pouco mais de personalidade (ao falar em público, apresentar trabalho, perguntar sobre preços, condições, e outras coisas em alguma loja ou estabelecimento comercial em geral), eu me demonstro uma negação social, e acabo me fazendo parecer um doente (dá pra perceber pela cara da pessoa que me atende na loja quando acontece, e eu ainda estou tentando desenvolver uma "defesa" contra isso u.u). Conheço várias pessoas aqui em Guaíba que, na minha opinião, são parecidas comigo, nesse aspecto. Conversar com elas durante 5min deve dar uma impressão horrorosa; conversar durante 30min deve dar uma impressão ótima.

Era isso...

R$

4 de ago. de 2011

Morrendo e Revivendo - um balanço das minhas férias...

Passei os últimos 17 dias nominalmente morto. Este era o objetivo: sumir. Queria jogar um jogo e fazer algumas coisas que tinha como importantes a serem feitas nas férias. Se não fosse capaz de cumpri-las, acho que teria terminado as férias me sentindo cansado, frustrado, por ter feito tantos planos e cumprido tão poucos.

Finalmente, consegui: assisti ao Senhor dos Anéis, como já disse, e aos três "primeiros" episódios do Star Wars. No dia posterior, dei uma relaxada, fui ao cinema com alguns amigos, e a partir da sexta-feira da semana retrasada comecei a jogar Golden Sun, para GBA. O primeiro jogo (são dois jogos: o primeiro vai até "a metade" da história e o segundo continua exatamente onde o primeiro termina) foi rápido, demorou 4 dias para terminar. O segundo foi até ontem denoite, quando, às 3h da manhã, finalmente venci o último chefe (admito que não aguentava mais =)). Terminou, e agora me sinto com a disposição necessária para vencer mais um semestre.

Esse semestre será complicado, com 7 cadeiras (bem mais do que eu normalmente pego), mas certamente será bom. Voltarei a ter aulas com o melhor professor do curso, na minha opinião \o/.

Além disso, já me propus a entrar em um projeto "sério" com uns amigos nos quais desenvolveremos mais um joguinho (as aspas no sério são justamente por ser um jogo), e dessa vez pretendemos utilizar Löve como "engine" (não conheço direito a Löve e por isso não sei se dá pra chamar assim) para nosso programa.

Enfim enfim... esse semestre "promete". Infelizmente, vejo que terei de deixar alguns projetos "de lado" (o que significa que devo "fulfil" eles nas férias), como a tradução do livro de Haskell (frustrante pensar que o mantenedor do projeto nunca mais entrou no github desde abril - se bobear já até morreu ou está acometido de uma grave doença e eu to xingando ele, coitado D=) e os meus videos no Youtube (eu até tinha criado uma conta google com o nome "Satyrslair", mas no fim acho que vou deixar ela "de molho" durante um tempinho D=). De qualquer forma, estou feliz e contente com esse novo semestre que começa \o/