Disclaimer (cumé que se traduz isso?)
Antes de começar essa postagem, é necessário que ao leitor sejam esclarecidos dois importantes pontos:- Essa postagem foi idealizada em um daqueles momentos em que qualquer coisa parece fazer todo sentido, a saber, no caso, em um momento de insônia. Uma vez, li na Super Interessante (ótima fonte de informação, em? lol) que quanto mais com sono estamos mais nos falta uma certa substância responsável pelo nosso senso de realidade, o que, por vezes, nos ajuda a pensar que algo completamente aleatório poderia naturalmente fazer todo o sentido. Se o é verdade, não sei dizer; mas que me parece aceitavelmente condizente com a realidade... ah, sim parece!
- O leitor assíduo deve já saber que nesse blog, em geral, evito mencionar nomes. Assim, apesar de essa postagem ser relativamente "direcionada" a algumas pessoas (não que eu realmente pretenda que ela seja lida pelas tais, mas, bem, o leitor entenderá), ela não dirá quem elas sejam. Com o intuito de identificá-las, me bastará fornecer algumas informações não críticas sobre ambas.
Postagem em si
Essa semana, ou, mais precisamente, na madrugada do dia 26, foi embora aquele que fazia as vezes de "meu orientador" aqui na universidade: um pós doutorando, responsável por controlar o número de horas durante as quais eu ficaria no lab, verificar o quão bom tem sido o meu progresso e definir quais seriam as tarefas (ou, na verdade, quem é que me daria tarefas) no próximo "intervalo" de tempo (o qual, em geral, durava uma semana).Mestre Splinter |
Porque eles tiveram uma má experiência no ano anterior (ou ao menos foi o que eu ouvi) com o brasileiro que aqui estava, ele no início demonstrou uma certa cobrança maior do que me era esperado. Com o tempo fui perceber que não era ele quem cobrava (minha impressão era de que ele tava meio que "cagando e andando", na real), mas o professor (que coordena o lab), que ainda comigo tinha um pé atrás.
Como essa foi a minha primeira real "experiência profissional" até então, e estando eu num lugar onde (ao menos eu esperava que) as relações sociais não deveriam se "confundir" com as relações profissionais (apesar de eu usar o MSN para me comunicar com o pessoal do lab), procurei sempre manter uma relativa e suficiente distância. Um exemplo: apesar de usar português para me comunicar (o que em geral leva a um ambiente um pouco mais descontraído), tendia a evitar palavrões.
Quase o mesmo ocorria com um doutorando do lab, também brasileiro. Como passei boa parte do meu tempo até agora fazendo um programa onde o responsável era ele, passei esse tempo me comunicando com ele, tentando sempre manter aquela distância típica da minha parte quando o assunto sobre o qual eu falo é sério. Por outro lado, como não tinha, na verdade, de responder diretamente a ele por tudo o que eu andasse fazendo no lab, com ele não me importava tanto em "profanar o ambiente de trabalho" com conversa fiada, se por qualquer motivo ela surgisse.
Mestre Yoda |
Quando peguei catapora, em Junho, ambos se dispuseram a me ajudar em qualquer coisa que fosse necessária. Como bons brasileiros e conhecendo a possível desestabilidade psicológica que o estar longe de casa pode trazer (não que eles [ou eu] tenham[os] passado por isso, mas, lol, tem gente que até se mata), pediram que eu com eles entrasse em contato se tivesse qualquer problema. O leitor que já me conhece sabe que não gosto de pedir as coisas a outrem -- especialmente quando não tenho muita "afinidade" -- e que, portanto, uma probabilidade bem pequena de que eu realmente fizesse o que a mim pedido fora havia.
Com a saída do agora pós-doutor, ou, na verdade, com o aviso de que a sua saída se aproximava, alguns pensamentos vieram à minha mente. Mas... antes... mais detalhes:
Dos meus amigos com quem eu para cá pra Alemanha vim, alguns festeiros acabaram se dando muito bem com o meu "orientador" (usarei essa palavra sem aspas daqui pra frente pra denotar o pós-doutorando, já que, na real, era isso que ele era, no fim das contas): saíam e bebiam de vez em quando. Pra mim era legal: apesar de eu não me comunicar consigo (não bebo, não faço nenhuma loucura aleatória e nem gosto de festas -- não tinha muito sobre o que conversar), através dos meus colegas tinha como finalmente ter um feedback sobre o quão bem ía o meu trabalho aos olhos dos meus "superiores" no laboratório (já que a mim pouco ou nenhum retorno é dado, normalmente).
Senhor Miyagi |
No fim de Julho, fomos eu, o professor do laboratório (o qual surpreendetemente fala bem mais português do que eu esperava), e os dois brasileiros a uma churrascaria que havia aberto aqui na cidade (churrascaria fodasticalhona! Saciei completamente a minha saudade de um bom churrasco!). Ao término da janta, percebi pela primeira vez que talvez essas pessoas -- com quem eu convivo tanto e a quem eu respondo frequentemente no laboratório -- também participavam da minha vida social! Não que eu não o soubesse já, mas foi algo que me fez pensar: diferentemente das situações de sempre, não havia resposta certa ou comportamento esperado. Eu não estava no ambiente de trabalho!
Bom... essa semana, como eu disse, foi embora o meu orientador. Virou professor, ou seja, exatamente aquilo que almejo, num futuro distante, alcançar. Tenho orgulho de ter passado por "seu caminho". Mesmo assim, não aprendi um décimo do que talvez através dele poderia ter aprendido. Respondi às suas orientações, atribuições de tarefas, e só. Não "fiz parte de sua vida", i.e., não participei de sua vida social a ponto de talvez ser lembrado num futuro distante. E a recíproca não é verdadeira.
Essa postagem, assim, tem o objetivo de expressar, de alguma forma, o quão importantes são esses dois brasileiros com os quais convivo (e convivi) tanto e através dos quais aprendo (e aprendi) muito. Ao longo da postagem, o leitor passou por imagens de seres que, nos seus universos, foram considerados mestres pelos "personagens principais" de suas "realidades". Meus superiores foram (e têm sido), assim, meus mestres através desse ano inteiro nessa terra distante. Agradeço-os...
R$
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