Essa é uma postagem completamente diferente de todas as que já fiz, creio eu, até hoje. Ela se baseia muito mais nas suas fotos do que no que eu tenho a dizer sobre elas.
Até pouco tempo atrás, duas coisas aqui na Alemanha não me passavam bem pela garganta: a comida e o clima.
Até pouco tempo atrás!
Sério... o outono aqui é a época mais bonita do ano, certamente. A Alemanha não combina com a primavera, com cores vibrantes e vivas. O outono reflete bem a cara do país (ou, ao menos, de Kaiserslautern).
Cheias de cores, as árvores despencam suas folhas por todo lugar.
Acho que as minhas fotos ficaram meio ruins, mas tomara que dê pra ter uma idéia de quão colorida a estação está [ou, melhor, estava -- porque agora as folhas já estão aparentando bem mórbidas v_v].
Enquanto tirava fotos pela universidade (parecendo um turista -- árabe, aliás, por causa da barba -- aloprado querendo registrar tudo o que vê), uma amiga com quem eu tava me apontou uns cogumelos.
Eu passo por esse lugar (onde encontramos os cogumelos) todo dia! Ainda não os tinha visto (eles me lembram o MClone e os trabalhos de computação gráfica na faculdade -- os quais inclusive me renderam um artigo [aliás, também é legal saber que o DBLP é "powered by Universität Trier", que fica aqui perto]).
Eu fiquei com a impressão de que essa próxima foto parece foto de maquete de uma nova construção que vai sair num futuro próximo em algum lugar. Sei lá... parece que é tudo artificial v_v
E isso conclui essa minha postagem. Eu tenho postado numa freqüência super alta ultimamente, mas não creio que essa freqüência deva se manter por muito tempo. Mesmo assim, é verdade que eu tenho mais alguns assuntos sobre os quais eu já tinha escrito em outros tempos e que ainda estão "escondidos" na lista de rascunhos do blog.
(agora quando minha mãe me pedir fotos direi a ela que leia o meu blog... HUEAHEUHA)
R$
19 de out. de 2012
18 de out. de 2012
Armamentista ou Desarmamentista? Eis a questão...
Um amigo deu like num link no Facebook hoje que acabou aparecendo pra mim nos "feeds de notícias". O link (como é de se esperar, já que ele é bem viciado nessas coisas) era sobre um armamentista respondendo a alguns argumentos desarmamentistas.
Eu gostei da discussão e fiquei feliz por ela ter se dado na Carta Capital, uma revista que eu acho suficientemente não tendenciosa. As opiniões são de 2011 (ocorreu durante uma tal de CPI das Armas do RJ), mas achei que valeria a pena postar os links organizados. Meio que duvido que o leitor se dê ao trabalho de ler tudo (haja tempo e boa vontade!), mas, sei lá...
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/maioria-das-armas-dos-traficantes-vem-de-dentro-do-pais/
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ong-viva-brasil-contesta-informacoes-da-ong-viva-rio/
http://www.cartacapital.com.br/politica/viva-rio-reitera-armas-do-trafico-vem-de-dentro-do-pais/
Através desses três primeiros links, eu poderia dizer que quase teria a sensação de que o "vitorioso" seria o desarmamentista Antonio Rangel Bandeira, não fosse o fato de ele rebater o "achismo" do diretor da CAC com comentários de cunho tão "achista" quando o de seu adversário (somente referindo ao próprio documento alvo de questionamentos pelo Rebelo). Inclusive, ele não cita os nomes dos supostos membros da CAC que tiveram suas armas roubadas, argumentando que "há abundância de noticiários" (enquanto, por outro lado, o Fabrício Rebelo o desafia a fazê-lo). ["apelo à ignorância", mas, sei lá, néam?]
Aliás... o Rebelo nem comenta sobre a afirmação de que as maioria das armas não viria do exterior, apesar do título dado pela Carta Capital à sua resposta (por mais que ele diga que não faria sentido associar-se à CAC para obter armas do exterior).
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-menos-armas-em-circulacao-menos-mortes/
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-mais-armas-em-circulacao-menos-mortes/
http://www.cartacapital.com.br/politica/walter-maierovitch-o-brasil-e-protagonista-no-trafico-internacional-de-armas/
Bom... tendo lido tudo, posso dizer que, bem, eu definitivamente sou muito mais armamentista do que desarmamentista. Eu creio sim que maior parte das armas venha do exterior: não fosse assim (fossem só os 7% defendidos pelo Bandeira), não veríamos com tanta freqüência fuzis, metralhadoras e o diabo nas apreensões da polícia cobertas pela imprensa. Lendo o comentário da diretora do Sou da Paz, fiquei enculcado sobre o seguinte trecho:
Quer dizer então que a opinião da população não serve pra nada? Acho que o resultado do referendo claramente demonstrou que a população não quer ficar desarmada.
Sei lá... esse foi um post meio impensado... sem muita formação, e com links "desnudos" aí para o deleite do leitor (normalmente, eu prefiro embutir o link em alguma palavra ou frase no meio do texto). Só achei que seria talvez um assunto sobre o qual o leitor possivelmente gostaria de refletir =)
R$
Eu gostei da discussão e fiquei feliz por ela ter se dado na Carta Capital, uma revista que eu acho suficientemente não tendenciosa. As opiniões são de 2011 (ocorreu durante uma tal de CPI das Armas do RJ), mas achei que valeria a pena postar os links organizados. Meio que duvido que o leitor se dê ao trabalho de ler tudo (haja tempo e boa vontade!), mas, sei lá...
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/maioria-das-armas-dos-traficantes-vem-de-dentro-do-pais/
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ong-viva-brasil-contesta-informacoes-da-ong-viva-rio/
http://www.cartacapital.com.br/politica/viva-rio-reitera-armas-do-trafico-vem-de-dentro-do-pais/
Através desses três primeiros links, eu poderia dizer que quase teria a sensação de que o "vitorioso" seria o desarmamentista Antonio Rangel Bandeira, não fosse o fato de ele rebater o "achismo" do diretor da CAC com comentários de cunho tão "achista" quando o de seu adversário (somente referindo ao próprio documento alvo de questionamentos pelo Rebelo). Inclusive, ele não cita os nomes dos supostos membros da CAC que tiveram suas armas roubadas, argumentando que "há abundância de noticiários" (enquanto, por outro lado, o Fabrício Rebelo o desafia a fazê-lo). ["apelo à ignorância", mas, sei lá, néam?]
Aliás... o Rebelo nem comenta sobre a afirmação de que as maioria das armas não viria do exterior, apesar do título dado pela Carta Capital à sua resposta (por mais que ele diga que não faria sentido associar-se à CAC para obter armas do exterior).
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-menos-armas-em-circulacao-menos-mortes/
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-mais-armas-em-circulacao-menos-mortes/
http://www.cartacapital.com.br/politica/walter-maierovitch-o-brasil-e-protagonista-no-trafico-internacional-de-armas/
Bom... tendo lido tudo, posso dizer que, bem, eu definitivamente sou muito mais armamentista do que desarmamentista. Eu creio sim que maior parte das armas venha do exterior: não fosse assim (fossem só os 7% defendidos pelo Bandeira), não veríamos com tanta freqüência fuzis, metralhadoras e o diabo nas apreensões da polícia cobertas pela imprensa. Lendo o comentário da diretora do Sou da Paz, fiquei enculcado sobre o seguinte trecho:
Em 2003 conseguimos aprovar o Estatuto, em 2004 fizemos uma grande campanha que tirou muitas armas de circulação, em 2005 veio a discussão do referendo, em que a população votou pela manutenção da venda de armas de fogo, mas isso não significa que acabou com o Estatuto do Desarmamento, muito pelo contrário.
Quer dizer então que a opinião da população não serve pra nada? Acho que o resultado do referendo claramente demonstrou que a população não quer ficar desarmada.
Sei lá... esse foi um post meio impensado... sem muita formação, e com links "desnudos" aí para o deleite do leitor (normalmente, eu prefiro embutir o link em alguma palavra ou frase no meio do texto). Só achei que seria talvez um assunto sobre o qual o leitor possivelmente gostaria de refletir =)
R$
17 de out. de 2012
Elmord's Magic Valley
Em uma conversa com um amigo -- o dono do Lines o' Code, um dos blogs ali do lado -- sobre o quanto eu gosto de aprender sobre línguas*, sobre linguagens, sobre linguísticas e todas essas coisas que giram em torno do modo como os seres vivos se comunicam (digo "vivos" porque admito que tenho sérias ressalvas com a área de redes, na computação), fiquei sabendo da existência de uma postagem sobre esperanto no blog de um de seus amigos.
Fiquei curioso: de acordo com o amigo, a conversa rendeu affuuuu sérias polêmicas. Fui ver! (na real, demorei um monte pra lembrar: tem umas coisas que a gente só lembra de fazer quando definitivamente não dá, como quando tá tomando banho, quando tá andando na rua, quando tá no lab "trabalhando", etc.) Ao chegar lá, fiquei feliz: é um blog que se encaixa perfeitamente no tipo de blog que me agrada ler. Fala sobre assuntos de computeiro, assuntos da vida e, como me era esperado, tem algumas postagens sobre línguas \o/
Bem... essa postagem é mais meio que pra demonstrar que eu fiquei tri empolgadinho com o feito alheio, pra recomendar o leitor ao blog, e pra explicar que eu devo referi-lo na listinha ali à direita de agora em diante (eu todo orgulhozinho crente de que estaria sendo o primeiro; aí agora fui ver o blog lá e já tinha um link pro meu... lol).
Eras isso...
R$
*: Eu gostava de tentar distinguir "línguas" de "linguagens" meio que tomando por critério alguns parâmetros que aprendi nos tempos das aulas de LIBRAS. Foram-se os critérios (esquecidos -- mas subjetivamente guardados), ficou a distinção: de alguma forma, eu me dou ao esforço de diferenciá-las [as palavras], apesar de saber que as definições variam demais -- e inclusive haver línguas que não diferenciam ambas as palavras [coff coff... inglês... coff coff].
Aliás aliás... falando de inglês: fiquei de boca aberta hoje quando me toquei que, apesar de normalmente relacionarem o significado de língua a "language" ou "tongue", eles usem a palavra "multilingual". É mais um daqueles exemplos tipo lunar vs moon (dafuq?).
Enfim enfim... já to "leaking" demais. O meu '\0' era ali no "R$".
Fiquei curioso: de acordo com o amigo, a conversa rendeu affuuuu sérias polêmicas. Fui ver! (na real, demorei um monte pra lembrar: tem umas coisas que a gente só lembra de fazer quando definitivamente não dá, como quando tá tomando banho, quando tá andando na rua, quando tá no lab "trabalhando", etc.) Ao chegar lá, fiquei feliz: é um blog que se encaixa perfeitamente no tipo de blog que me agrada ler. Fala sobre assuntos de computeiro, assuntos da vida e, como me era esperado, tem algumas postagens sobre línguas \o/
Bem... essa postagem é mais meio que pra demonstrar que eu fiquei tri empolgadinho com o feito alheio, pra recomendar o leitor ao blog, e pra explicar que eu devo referi-lo na listinha ali à direita de agora em diante (eu todo orgulhozinho crente de que estaria sendo o primeiro; aí agora fui ver o blog lá e já tinha um link pro meu... lol).
Eras isso...
R$
*: Eu gostava de tentar distinguir "línguas" de "linguagens" meio que tomando por critério alguns parâmetros que aprendi nos tempos das aulas de LIBRAS. Foram-se os critérios (esquecidos -- mas subjetivamente guardados), ficou a distinção: de alguma forma, eu me dou ao esforço de diferenciá-las [as palavras], apesar de saber que as definições variam demais -- e inclusive haver línguas que não diferenciam ambas as palavras [coff coff... inglês... coff coff].
Aliás aliás... falando de inglês: fiquei de boca aberta hoje quando me toquei que, apesar de normalmente relacionarem o significado de língua a "language" ou "tongue", eles usem a palavra "multilingual". É mais um daqueles exemplos tipo lunar vs moon (dafuq?).
Enfim enfim... já to "leaking" demais. O meu '\0' era ali no "R$".
13 de out. de 2012
Pobre Português 2
Na minha última postagem eu reclamei sobre como o português parecia cada vez mais afundar. Não posso dizer que isso seja a verdade absoluta: essa é somente a minha percepção da coisa; é inegável, porém, que muitas das nossas "estruturas" estejam a se perder.
Essa postagem deve enumerar algumas das perdas que andei notando algum tempo atrás. Enquanto em geral quando escrevo tendo a tentar manter um padrão "um pouco mais alto" quanto à "norma culta" da língua, é verdade que umas delas [as perdas], como o leitor perceberá, eu até mesmo incorporo na minha escrita.
A primeira perda a comentar é a omissão da preposição em casos em que ela vem acompanhada do "que". Na fala, tudo bem: gaúchos não usam plural, paulistas não usam subjuntivo, pernambucanos não usam artigos (esse último não tá errado, mas convenhamos...); tudo ok! Mas é bem frequente encontrar frases escritas (na internet, especialmente) onde locuções como "sobre que", "de que", "com que", são substituídas pelo pobre "que". Em vez de dizerem "Essa é a pessoa com que eu mais simpatizo", por exemplo, dizem "Essa é a pessoa que eu mais simpatizo", removendo friamente a preposição. Problema é que o erro acaba saindo do ambiente informal e atingindo os textos "importantes" aqueles que os falam, os quais na grande maioria dos casos nenhuma ciência dele têm, ora têm de realizar.
Esse mau uso das preposições é um vício não necessariamente vinculado ao "que". Em geral, as pessoas não sabem usá-las direito. Boa parte da língua, inclusive, está em constante mudança por causa dessas anomalias. Um tempo atrás, lembro de ter visto uma propaganda do canal Futura em que as pessoas na rua eram abordadas com uma frase como
Eu preciso de sair cedo hoje.
e a pergunta "Essa frase está correta?". Parece ridículo, mas houve muita gente respondendo que estava correta, porque, sim, às vezes, o verbo "precisar" é transitivo indireto ("eu preciso de comida", por exemplo). Já achei inclusive mais de uma vez em artigo científico (não que leia muitos, mas, enfim) o uso do verbo "visar" com o sentido de objetivar sem a preposição que o deveria acompanhar: o "a". Ou seja, em vez de "visando a resolver esses problemas", por exemplo, o autor escreveu "visando resolver esses problemas". Talvez nesse caso esteja na hora de simplesmente mudar a língua e remover o "a".
Isso me leva ao segundo empobrecimento sobre que [viu? creio que a maioria dos leitores não teria colocado um "sobre" ali antes do "que" e acharia estar perfeitamente correto] eu gostaria de comentar: a crase [puta que pariu! Sério... ninguém sabe usar essa merda direito!].
Com o perdão das expressões que terminaram o meu último parágrafo, continuo com a afirmação de que ou a crase através do tempo vai passar a ser "correta" em casos extremamente não lógicos, ou ela vai cair (simplesmente pelo fato de que as pessoas não sabem usá-la). O motivo: novamente, as pessoas não entendem NADA [dupla negação?] sobre regência verbal! Chega a dar um dó perceber escritos como "Tópicos relacionados à "Zé Pedro"" [acabei de achar esse no google agora há pouco].
Ainda nas preposições, uma última perda: o caso comitativo! Sério... não é engraçado que com o tempo somente o "comigo" e o "contigo" tenham se mantido. Quem ainda fala "conosco" [virou "com a gente"] ou, pior, "convosco" [virou "com vocês"]? E o "consigo"? Se no Brasil esse último se manteve só em casos em que se denota reflexividade da terceira pessoa, em Portugal ele parece em constante uso em regiões em que se usa "você". Assim, chega a ser engraçado ver o comentarista dizendo "Qual é que é para si [...]" (com o sentido de "Qual é que é para você") no seguinte vídeo: (ok ok... "para si" não é "consigo", mas é óbvio que o "si" permanece como caso oblíquo no português português)
Saindo das preposições, pulo agora para os verbos. Alguns parágrafos atrás eu disse que tudo bem falar errado; a verdade é que eu realmente fico agoniado quando ouço paulistas não usando o subjuntivo. Lembro de uma vez ter assistido ao Casos de Família (naquele tempo em que [ó denovo! Usaria o leitor o "em" ali antes do que?] tinha a Regina Volpato) e ter visto uma mulher (paulista) falando "ela quer que eu deixo ele ir todo dia na casa dela" (algo assim). Sério... que tenso!
Mas dos paulistas eu não posso falar muito: nós gaúchos basicamente eliminamos o futuro do presente. Em vez de dizer "irei" ou "farei", nos deixamos influenciar pelos falantes do castelhano das proximidades das nossas fronteiras e usamos o verbo "ir" como auxiliar de futuro. Enquanto eles dizem "me voy a caer", dizemos "vou cair", e tudo fica igual. Ok ok... não enxergo o nosso caso como uma perda, já que aceitamos perfeitamente o futuro do presente como possível variação (e não estamos cometendo nenhum pecado na língua -- com discutíveis exceções: alguns leitores dirão que "eu vou ir" seria errado), mas a verdade é que essa variação cada vez mais se distancia do usual.
Seguindo com os regionalismos, uma terceira perda, na minha opinião, é o uso do você. Ela é parte de o que eu gosto de chamar de "terceira-pessoalização" dos nossos verbos. Outra parte desse "fenômeno" é o uso do "a gente". Através deles, as nossas conjugações ficam (usando o verbo cantar como exemplo):
Eu canto
Você canta
Ele canta
A gente canta
Vocês cantam
Eles cantam
E através disso tudo fica conjugado na terceira pessoa (fora o "eu", que de tanto que é usado pelos falantes nativos através dos tempos acho que seria bem difícil de se estragar). Sério... isso não seria um problema (afinal, é só mais uma forma de dizer a mesma coisa) se não fossem dois fatos: (1) as pessoas têm desaprendido como se conjuga das outras formas; e (2) aos falantes não nativos acaba sendo ensinada somente a forma mais fácil.
Eu creio já ter escrito (embora não tenha conseguido encontrar) sobre quando eu fui tentar ensinar a meu professor como conjugar um verbo na primeira pessoa do singular e os outros brasileiros que comigo estavam me cortaram dizendo que ele deveria usar "a gente" no lugar de "nós" e conjugar tudo na terceira pessoa. Sério... desleixo básico da língua D=
Pra terminar com os verbos, a última perda é a mais óbvia: o completo esquecimento do Pretérito Mais-Que-Perfeito. Esse, certamente, não tem mais volta. Está fadado ao desuso. Não há o que fazer: não existe medida forte o suficiente pra trazê-lo de volta. Infelizmente, já que ele era BEM mais eficiente que a versão atual dele: a construção "tinha/havia + particípio".
Mais uma coisa que o falante nativo da nossa língua não sabe usar são aquelas tais de "próclise", "mesóclise" e "ênclise". Pra nós brasileiros, no fim das contas, tudo virou próclise (dá pra usar em tudo que é lugar mesmo -- diferente das outras duas), e essa é uma daquelas perdas que eu simplesmente não consigo não incorporar a esse blog.
Falando em "perdas que eu incorporei a esse blog", outra perda é a não-diferenciação dos pronomes demonstrativos "esse" e "este". Enquanto eu sei qual deveria ser a regra (ou ao menos eu creio saber), eu simplesmente não consegui ainda acostumar a lembrar de me policiar sobre o assunto. Assim, bem como pra todo brasileiro, pra mim é tudo a mesma coisa.
E isso finaliza a minha lista (que de forma alguma tenta ser exaustiva) de empobrecimentos do nosso português. Infelizmente, provavelmente haja bem mais v_v
R$
Essa postagem deve enumerar algumas das perdas que andei notando algum tempo atrás. Enquanto em geral quando escrevo tendo a tentar manter um padrão "um pouco mais alto" quanto à "norma culta" da língua, é verdade que umas delas [as perdas], como o leitor perceberá, eu até mesmo incorporo na minha escrita.
A primeira perda a comentar é a omissão da preposição em casos em que ela vem acompanhada do "que". Na fala, tudo bem: gaúchos não usam plural, paulistas não usam subjuntivo, pernambucanos não usam artigos (esse último não tá errado, mas convenhamos...); tudo ok! Mas é bem frequente encontrar frases escritas (na internet, especialmente) onde locuções como "sobre que", "de que", "com que", são substituídas pelo pobre "que". Em vez de dizerem "Essa é a pessoa com que eu mais simpatizo", por exemplo, dizem "Essa é a pessoa que eu mais simpatizo", removendo friamente a preposição. Problema é que o erro acaba saindo do ambiente informal e atingindo os textos "importantes" aqueles que os falam, os quais na grande maioria dos casos nenhuma ciência dele têm, ora têm de realizar.
Esse mau uso das preposições é um vício não necessariamente vinculado ao "que". Em geral, as pessoas não sabem usá-las direito. Boa parte da língua, inclusive, está em constante mudança por causa dessas anomalias. Um tempo atrás, lembro de ter visto uma propaganda do canal Futura em que as pessoas na rua eram abordadas com uma frase como
Eu preciso de sair cedo hoje.
e a pergunta "Essa frase está correta?". Parece ridículo, mas houve muita gente respondendo que estava correta, porque, sim, às vezes, o verbo "precisar" é transitivo indireto ("eu preciso de comida", por exemplo). Já achei inclusive mais de uma vez em artigo científico (não que leia muitos, mas, enfim) o uso do verbo "visar" com o sentido de objetivar sem a preposição que o deveria acompanhar: o "a". Ou seja, em vez de "visando a resolver esses problemas", por exemplo, o autor escreveu "visando resolver esses problemas". Talvez nesse caso esteja na hora de simplesmente mudar a língua e remover o "a".
Isso me leva ao segundo empobrecimento sobre que [viu? creio que a maioria dos leitores não teria colocado um "sobre" ali antes do "que" e acharia estar perfeitamente correto] eu gostaria de comentar: a crase [puta que pariu! Sério... ninguém sabe usar essa merda direito!].
Com o perdão das expressões que terminaram o meu último parágrafo, continuo com a afirmação de que ou a crase através do tempo vai passar a ser "correta" em casos extremamente não lógicos, ou ela vai cair (simplesmente pelo fato de que as pessoas não sabem usá-la). O motivo: novamente, as pessoas não entendem NADA [dupla negação?] sobre regência verbal! Chega a dar um dó perceber escritos como "Tópicos relacionados à "Zé Pedro"" [acabei de achar esse no google agora há pouco].
Ainda nas preposições, uma última perda: o caso comitativo! Sério... não é engraçado que com o tempo somente o "comigo" e o "contigo" tenham se mantido. Quem ainda fala "conosco" [virou "com a gente"] ou, pior, "convosco" [virou "com vocês"]? E o "consigo"? Se no Brasil esse último se manteve só em casos em que se denota reflexividade da terceira pessoa, em Portugal ele parece em constante uso em regiões em que se usa "você". Assim, chega a ser engraçado ver o comentarista dizendo "Qual é que é para si [...]" (com o sentido de "Qual é que é para você") no seguinte vídeo: (ok ok... "para si" não é "consigo", mas é óbvio que o "si" permanece como caso oblíquo no português português)
Saindo das preposições, pulo agora para os verbos. Alguns parágrafos atrás eu disse que tudo bem falar errado; a verdade é que eu realmente fico agoniado quando ouço paulistas não usando o subjuntivo. Lembro de uma vez ter assistido ao Casos de Família (naquele tempo em que [ó denovo! Usaria o leitor o "em" ali antes do que?] tinha a Regina Volpato) e ter visto uma mulher (paulista) falando "ela quer que eu deixo ele ir todo dia na casa dela" (algo assim). Sério... que tenso!
Mas dos paulistas eu não posso falar muito: nós gaúchos basicamente eliminamos o futuro do presente. Em vez de dizer "irei" ou "farei", nos deixamos influenciar pelos falantes do castelhano das proximidades das nossas fronteiras e usamos o verbo "ir" como auxiliar de futuro. Enquanto eles dizem "me voy a caer", dizemos "vou cair", e tudo fica igual. Ok ok... não enxergo o nosso caso como uma perda, já que aceitamos perfeitamente o futuro do presente como possível variação (e não estamos cometendo nenhum pecado na língua -- com discutíveis exceções: alguns leitores dirão que "eu vou ir" seria errado), mas a verdade é que essa variação cada vez mais se distancia do usual.
Seguindo com os regionalismos, uma terceira perda, na minha opinião, é o uso do você. Ela é parte de o que eu gosto de chamar de "terceira-pessoalização" dos nossos verbos. Outra parte desse "fenômeno" é o uso do "a gente". Através deles, as nossas conjugações ficam (usando o verbo cantar como exemplo):
Eu canto
Você canta
Ele canta
A gente canta
Vocês cantam
Eles cantam
E através disso tudo fica conjugado na terceira pessoa (fora o "eu", que de tanto que é usado pelos falantes nativos através dos tempos acho que seria bem difícil de se estragar). Sério... isso não seria um problema (afinal, é só mais uma forma de dizer a mesma coisa) se não fossem dois fatos: (1) as pessoas têm desaprendido como se conjuga das outras formas; e (2) aos falantes não nativos acaba sendo ensinada somente a forma mais fácil.
Eu creio já ter escrito (embora não tenha conseguido encontrar) sobre quando eu fui tentar ensinar a meu professor como conjugar um verbo na primeira pessoa do singular e os outros brasileiros que comigo estavam me cortaram dizendo que ele deveria usar "a gente" no lugar de "nós" e conjugar tudo na terceira pessoa. Sério... desleixo básico da língua D=
Pra terminar com os verbos, a última perda é a mais óbvia: o completo esquecimento do Pretérito Mais-Que-Perfeito. Esse, certamente, não tem mais volta. Está fadado ao desuso. Não há o que fazer: não existe medida forte o suficiente pra trazê-lo de volta. Infelizmente, já que ele era BEM mais eficiente que a versão atual dele: a construção "tinha/havia + particípio".
Mais uma coisa que o falante nativo da nossa língua não sabe usar são aquelas tais de "próclise", "mesóclise" e "ênclise". Pra nós brasileiros, no fim das contas, tudo virou próclise (dá pra usar em tudo que é lugar mesmo -- diferente das outras duas), e essa é uma daquelas perdas que eu simplesmente não consigo não incorporar a esse blog.
Falando em "perdas que eu incorporei a esse blog", outra perda é a não-diferenciação dos pronomes demonstrativos "esse" e "este". Enquanto eu sei qual deveria ser a regra (ou ao menos eu creio saber), eu simplesmente não consegui ainda acostumar a lembrar de me policiar sobre o assunto. Assim, bem como pra todo brasileiro, pra mim é tudo a mesma coisa.
E isso finaliza a minha lista (que de forma alguma tenta ser exaustiva) de empobrecimentos do nosso português. Infelizmente, provavelmente haja bem mais v_v
R$
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