1 de mai. de 2010

Onde está o amor?!!?

Estava me perguntando sobre isso há algum tempo, antes de criar esse blog. Tinha vontade de escrever sobre o que eu pensava, mas não teria cara de pedir pra usar algum blog de alguém que já conheço. Gostaria de escrever isso pra um público maior do que as pessoas que aqui vêm, mas, hoje esse assunto me veio à cabeça denovo e não quis adiar mais o escrever =D

Aviso que esse texto deve se assemelhar ao conteúdo da disciplina de Matemática Discreta, no sentido de que, apesar de introduzir alguns fragmentos aparentemente desconexos, ao término, todos eles saberão (ou ao menos na minha cabeça eles parecerão saber) "como se juntar".

1 - Um tempo atrás, estava voltando pra Guaíba, logo depois de uma aula na UFRGS, e prestei atenção, como sempre, na quantidade de mendigos que se acumulavam nas extremidades do "túnel" que passa por debaixo da avenida da Conceição, ligando o lado da Rodoviária ao lado onde está a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). É extremamente triste pensar que existem tantos passando fome, mendigando, se humilhando por alguns centavos. É mais triste ainda pensar que muitos deles, por falta de cultura/conhecimento/acesso à informação, gastam do pouco dinheiro que conseguem em drogas, bebidas, ou qualquer outra coisa que, certamente, só afunda mais ainda o coitado na sua miséria.
Algo que me incomoda é eu nunca ter visto (apesar de não poder dizer com certeza de se não acontece) algum dos caras da IURD ali do lado demonstrar algum tipo de gentileza ou prestar algum tipo de ajuda aos pobres diabos do lado de fora do seu majestoso "templo" (ou catedral, como eles gostam de dizer), apesar de com freqüência já tê-los visto abordar pessoas acompanhadas de cadeirantes (na verdade, a pessoa de quem eu melhor me lembro ter visto era uma mulher cuja filha tinha paralizia cerebral) ou mesmo pessoas "normais", aparentemente, ao menos =D.
Onde está o amor a essas pessoas?!?! Foi embora?!?! Não quero julgar os caras da IURD: eu passava por eles todos os dias. Onde está o amor a essas pessoas!??!

2 - Por algum motivo, ouvi, algum tempo atrás, que os cristãos pregam "o ódio às minorias" (ouvi isso de uma pessoa contra quem poderia facilmente usar a falácia do argumento ad hominem ¬¬, o que, de qualquer forma, não mudaria a veracidade do fato) e, infelizmente, depois de um pouco pensar, fui obrigado a, concordar. Fiquei envergonhado ao notar isso e percebi que, fundamentalmente, o cristão, andando por esse caminho, não está seguindo os preceitos que prega. Afinal, o cristão prega o amor incondicional a todos, não importando de onde venha ou quais as condições do próximo (lembrando da parábola do bom samaritano). A pergunta que me faço, quando penso nessa história toda, novamente é a mesma da "história 1": onde está o Amor?!!?
Frequentemente tenho a impressão de que (creio que verdadeira), diferentemente dos ditos evangélicos - grupo do qual eu faço parte =D -, muitos outros grupos sociais, relacionados ou não a alguma crença, são muito mais "amorosos", no sentido de que, mesmo (às vezes) com muito menos condições, se doam em prol de outrem.
Não sei por que, mas, por algum motivo, gosto de relacionar esse pensamento a uma frase proferida por Jesus: "aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á". Sei que, contextualmente, essa parte não tem tanto a ver com esse assunto (Jesus estava falando somente sobre o seguir a ele, nesse contexto), mas, penso que o alvo do evangelho é o próximo, e que, pegando os conselhos dados por Tiago2 e 1João3 em relação ao próximo, deveríamos, sim, nos doar mais às pessoas à nossa volta (digo isso de maneira hipócrita e envergonhada, já que eu, apesar de pensar nisso, admito não fazer nada disso).

3 - Semana passada, quando eu estava esperando na parada o Agronomia, me abordou um homem falando numa voz fraca e especialmente aguda. Ele me perguntou se poderia me dizer uma coisa, no que eu fui inicialmente relativamente rude respondendo com um simples sim, um tanto amedrontado. Quando ele começou a falar foi quando eu percebi que se tratava de um mendigo que me pedia apenas algumas moedinhas pra comer. Eu não acreditei num primeiro momento, tendo ficado com absurdo medo de abrir a mochila - a parada estava meio vazia - e, rapidamente, inventei uma desculpa pra não fazê-lo: disse que não tinha moedas na mochila. Enquanto dizia isso, minha consciência categoricamente me alertava sobre o troco do RU, de 40 centavos, que jazia ao fundo do menor bolso da mochila. Fiquei infeliz com o acontecido, mas, tendo falado, ele foi embora, clamar pela ajuda de um outro que estava um pouco mais ao lado. Cheio de remorso, revirei pelos 40 centavos aquele bolso, no que descobri que tinha mais de 1 real dentro da mochila. Dei um real, nada mais nada menos, de consciência um pouco mais limpa D=.
O que me incomodou nessa história no fim das contas foi principalmente que eu neguei ajudar ao próximo simplesmente por medo de que eu o ajudasse mais do que estava realmente disposto a fazê-lo (ou seja, no caso de ele me roubar \o/). Não dei o meu lenço, tendo ele me pedido o manto. Fui indesejavelmente cristão, naquele momento... D=

Enfim... o que essas três historinhas me ensinam é que, apesar da minha infinda tentativa de tentar fazer valer aquilo que ponho como características fundamentais do meu caráter, baseado na bíblia, infelizmente sou falho ao tentar fazê-lo. Definitivamente, não sou bom em ser cristão. Estou certo de que a graça de Deus me basta e me ajuda com esse sério problema (no sentido de que isso não vai me levar à perdição =D), mas certamente não consigo ser bom o suficiente. Penso em fuzilar os índios quando eles tentam tomar para si áreas industriais de Guaíba, ou penso em bombardear casas de multimilionários capitalistas quando eles não se preocupam com o "bem-estar" da natureza, destruindo, por exemplo (como o meu boné, que não tiro da cabeça, lembra), áreas de desovas de tartarugas marinhas nas praias do nosso litoral. Gosto de lembrar de quando espanquei até a morte (eu era criança) uma galinha pendurada na árvore do pátio da casa da minha tia e de quando o mano apertou a casca de bergamota no olho de outro. Frequentemente percebo ser da minha natureza ser mal com as pessoas, com os animais, e com muitas outras coisas (utilizando isso para minha simples e pura diversão, até mesmo), e vejo que isso não é bom, no que fica a pergunta, mais uma vez, martelando na minha cabeça e me incomodando, acusando a mim e ao meu cristianismo (e a todos aqueles que, teoricamente, o seguem): "Onde está o amor?!?!"

Abaixo, fica a música que me "inspirou" a escrever sobre isso, também. A letra é MUITO boa, muito condizente com a maldita realidade. Por algum motivo, ela me lembra daquele cara do Rio de Janeiro, cujo título recebido era o de "profeta", que dizia e repetia que "gentileza gera gentileza", querendo fazer com que a sociedade vivesse melhor, de maneira mais unida, feliz e "amorosa", nesse sentido. A música reclama de guerras e racismo. Ela me lembra muito a minha historinha número 2, ali.



O que mais frustra é pensar que, apesar de ter escrito sobre isso, NADA vai mudar (inclusive eu seguirei a minha vida egoísta sem ajudar ninguém, porque sou mais hipócrita do que tenho vontade de mudar, de alguma forma, a vida das pessoas), todos permaneceremos agindo do mesmo modo egoísta de sempre (até porque só uma ou duas pessoas vão ler isso =D).

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Enfim... certamente esse post não serve pra nada e eu só escrevi pra dizer alguma coisa e pra reclamar da minha falta de atitude quanto à vida dos outros... mas ao menos eu publiquei alguma coisa hoje =D

R$

2 comentários:

  1. John, acho que o egoísmo é inerente à alma humana, por mais incoerente que seja chamar de humanos seres desumanos como nós... De qualquer forma, reconhecer isso já parece-me um avanço.
    Olha, não sou padrão para ninguém, mas eu não dou esmola, não. Se tenho algo de comer na bolsa, faço questão de oferecer, mas dinheiro de jeito nenhum. Usualmente, como você mesmo disse, o pessoal usa para drogas. Além disso, acho que dar esmola é incentivar a continuidade daquela situação. Existem outras possibilidades de ganhar a vida, as pessoas sabem disso, mas continuam como pedintes porque ainda é o mais fácil.
    No mais, realmente, se Jesus fez tudo que a Bíblia diz, foi um dos poucos humanos que mereceu o título, porque nós, companheiro, somos egoístas até quando ajudamos: o fazemos para nos sentir melhor (ou com a consciência limpa como você diz) em primeiro lugar...
    Beijocas

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  2. Pois é... concordo...

    É como o Machado de Assis defendia: todas as interações sociais realizadas pelos homens (as pessoas, no caso) são movidas pelo instinto e/ou pelo interesse. (ao menos isso foi o que eu li num livro de literatura uma vez)

    R$

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